Dá-lhe dedada
Hipocrisia bolsominion aflora com gesto comum
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Os parlamentares da extrema direita que agora se apressam em criticar Alexandre de Moraes por um “gesto obsceno” em um estádio são os mesmos que, até outro dia, fizeram silêncio diante de atos muito mais graves cometidos por Jair Bolsonaro e seus aliados. A indignação seletiva é, no mínimo, uma amostra gritante de hipocrisia política. Parte de figuras com fichas extensas de escândalos, agressões verbais e posturas que passam longe do decoro parlamentar.
Exemplos não faltam. No Congresso, os xingamentos ao presidente Lula e a outros parlamentares se tornaram parte da rotina. Nikolas Ferreira subiu à tribuna fantasiado para zombar de pessoas trans, em um ato escancaradamente transfóbico. Gustavo Gayer e Eduardo Bolsonaro, este último atualmente nos Estados Unidos, fugindo da justiça e instigando sanções contra o próprio país, seguem utilizando as redes sociais para disparar ataques grosseiros contra ministros do STF, o Executivo e qualquer um que se oponha à sua cartilha ideológica. Em plenário, já chamaram Lula de “ladrão”, “chefe de quadrilha” e outros termos que, além de violarem a liturgia do cargo, alimentam uma base radicalizada e hostil à democracia.
No Senado, o comportamento é semelhante. Jorginho Mello, por exemplo, já protagonizou episódios de desrespeito e discursos agressivos. Vive em confronto com adversários, com declarações que flertam com o extremismo e ecoam a retórica radical da ala bolsonarista. Com que moral agora gritam escandalizados por causa de um gesto feito por Moraes em sua vida privada, fora do ambiente de trabalho, como resposta a provocações pessoais? Não houve ali quebra de decoro, tampouco qualquer afronta institucional.
Durante o governo Bolsonaro, o próprio presidente ignorava qualquer limite institucional. Xingava em lives, mandava a mídia “enfiar o leite condensado no rabo”, chamava governadores de “bosta” e “estrume”… Na infame reunião ministerial de abril de 2020, dizia abertamente que queria interferir na Polícia Federal para proteger seus filhos. Abraham Weintraub sugeria prender ministros do STF. Damares Alves defendia a prisão de prefeitos e governadores por adotarem medidas sanitárias, durante a pandemia. Paulo Guedes elogiava ditaduras. E onde estavam esses guardiões da moral institucional? Aplaudindo de pé.
Naquela época, ninguém cobrava decoro. A extrema direita agia como se tudo fosse permitido, desde que servisse ao projeto de poder bolsonarista. Hoje, fingem zelo pelas instituições para atacar um ministro que se tornou um obstáculo às suas ambições. O gesto de Moraes pode até desagradar, mas aconteceu em contexto de provocação pessoal, em um momento de vida privada. Transformá-lo em escândalo nacional é teatro barato e oportunismo.
No fundo, o que move essas vozes não é indignação, é cálculo. Quem se incomoda com um dedo em riste, mas foi cúmplice de ameaças de golpe, de frases como “uso as Forças Armadas se precisar” ou “tem que prender os vagabundos do STF”, não quer respeito às instituições. Quer apenas manipular a história. E nesse palco montado, a hipocrisia é o papel que sabem representar com maior perfeição.