Caatinga
Histórias de superação têm sotaque ‘nordestinês’
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O sol da Caatinga num dá trégua, não. Ele nasce cedo, já mandando recado de que o dia vai ser duro. Mas quem vive por essas bandas aprende desde pequeno que a luta é grande, mas o peito é maior ainda.
Lá pras bandas do Seridó, dizem que a Caatinga fala. E fala mesmo. É o estalo dos galhos secos, é o balançar da jurema com o vento quente, é o arrastar da asa branca procurando sombra. Quem cresce ali aprende a ouvir tudo isso como quem ouve conselho de mãe: devagar, na hora certa, sem pressa de errar.
No meio desse mundaréu de espinho e poeira, vive seu Zé Raimundo, um cabra miúdo de corpo, mas grande de coragem. Todo mundo conhece ele pela risada alta e pelo jeito de nunca reclamar. “Falar de dor num resolve”, dizia. E lá ia ele, passo firme, cuidando da plantação pequena, mas teimosa, que insistia em brotar mesmo quando o chão rachava de sede.
Um dia, a seca apertou mais do que de costume. A cisterna tava quase no osso, os bichos magrinhos, e a mandioca resistindo só pela graça de Deus. Muita gente pegou o caminho da cidade grande. Mas seu Zé ficou. “Se eu for, a Caatinga morre de saudade de mim”, brincava, ajeitando o chapéu de couro na testa.
Foi num finzinho de tarde que a mudança veio. Uma nuvem carregada, daquelas que a gente até estranha, se formou atrás do morro. O vento mudou de cheiro — cheiro de promessa. A chuva veio grossa, forte, barulhenta, lavando o chão rachado e lavando também o coração de quem já tava quase cansando de esperar.
Seu Zé abriu os braços e deixou a água cair no rosto. E naquela hora ele entendeu que viver na Caatinga é isso: cair, levantar, insistir. Porque o sertanejo é feito de resistência, mas também de esperança.
E quando o sol voltou no outro dia, já brilhava diferente. Brilhava com orgulho. Porque só ele sabe da força que tem esse povo que mora no miolo do Nordeste — um povo que aprende a transformar espinho em flor, dificuldade em caminho, e seca em coragem.