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Voando alto

Ibaneis resgata MDB para suceder Jair Bolsonaro

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Ka Ferriche, colaborou José Seabra

O Dia das Crianças de 1992 foi marcado, mais uma vez, pelas comemorações e presentes distribuídos às jovens almas que hoje são trintonas e quarentonas. Talvez não tenham lembrança de que naquele 12 de outubro, uma outra alma tomou destino desconhecido, vítima de um acidente de helicóptero em Angra dos Reis, mar ao Sul do Rio de Janeiro: morreu Ulysses Guimarães, deputado federal eleito 11 vezes, que passou para a história como militante atuante na cadeira de presidente da Câmara dos Deputados e de seu partido, o MDB.

Ulysses Silveira Guimarães gostava mesmo de presidir. Além do Santos Futebol Clube, foi vice da UNE e dirigiu a Assembleia Nacional Constituinte. Dr. Ulysses, como era chamado o bacharel em Direito, só não conseguiu presidir o Brasil. Tentou, mas não alcançou 5% dos votos. Foi ainda o líder do movimento Diretas Já, que exigia eleições para a presidência, até quando os generais saíram do Palácio do Planalto, em 15 de março de 1985, após 21 anos de regime militar.

Dr. Ulysses deixou apenas lembranças – nem seu corpo foi encontrado – de um MDB que hoje enfrenta grandes desafios. À época das Diretas Já, nomes como Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva, Tancredo Neves, Orestes Quércia, Leonel Brizola, Mario Covas e Franco Montoro engordavam suas fileiras, ombro a ombro. O que veio a seguir e o destino de cada um todos nós sabemos. Inclusive as jovens almas que ganharam chocolate naquele sombrio Dia das Crianças.

Agora o partido Movimento Democrático Brasileiro – MDB, que sofreu significativas baixas nas eleições de 2018, com diversas personalidades políticas do seu quadro investigadas pela PGR e Polícia Federal, incluindo o último presidente Michel Temer, está à deriva. O atual presidente da legenda, ex-senador Romero Jucá, além de não conquistar a reeleição, é foco de diversas acusações pela Lava Jato e envolvimento com o caso Odebrecht. O MDB perdeu Jucá e a eterna presidência do Senado, representada pelo alagoano Renan Calheiros, enxotado de lá aos 45 do segundo tempo por David Alcolumbre.

Como havia antecipado Notibras logo na virada do ano, confirma-se um nome que está de olho na presidência do Brasil: Ibaneis Rocha, o emedebista que governa Brasília. Não há registro de que tenha exercido tantas presidências como o Dr. Ulysses, além da OAB-DF, de onde saiu direto para a principal cadeira do Governo do Distrito Federal.

Mas Ibaneis, que não completou ainda dois meses ao lado da loba, costuma deixar o Palácio do Buriti e a bordo de seu turboélice King Air 350, sobrevoa seu próximo alvo, o Palácio do Planalto. O voo, entretanto, exige uma escala para abastecer o projeto, que é a presidência nacional do MDB. Com isso, ele tentará estabelecer uma rota que permita visibilidade nacional. Como coordenadas ele pretende usar os movimentos da época em que Ulysses estava de um lado e os generais de outro.

Hoje os graduados das Forças Armadas estão taxiados exatamente na pista onde Ibaneis quer pousar. Entretanto, se a sua viagem passa pelo MDB, deverá também tirar do mapa partidário os escândalos e os políticos investigados em dezenas de crimes. E nesse quesito parece que o Palácio do Planalto leva vantagem. Ultrapassar sua blindagem, embora vulnerável, será um grande desafio.

Embora os governos de Ibaneis Rocha e de Jair Bolsonaro – a quem o governador pretende suceder -, estejam apenas começando, o projeto ´´e lido como de curto prazo. Porque em política, o tempo voa. Correligionários de Ibaneis avaliam que, entre os três governadores do MDB, ele reúne as melhores condições para assumir o comando do partido. Além da posição geográfica privilegiada (Hélder Barbalho fica no Pará e Renan Filho, em Alagoas) o governador de Brasília incorporou à sua equipe de secretários e dirigentes de estatais próceres do MDB que estavam na Esplanada dos Ministérios e adjacências quando Temer era presidente.

O primeiro passo é conquistar o partido. Depois, buscar alianças para pavimentar o projeto maior. Um grupo de notáveis está elaborando um plano de ação. Renomados sociólogos, jornalistas e cientistas políticos começam a traçar os próximos passos de Ibaneis. José Sarney, um velho cacique do partido, deu aval a esse plano de voo. Até porque, seu primogênito, Sarney Filho, faz parte da equipe do governo de Brasília.

Como o voo é alto, é preciso ter bons copilotos e combustível – ou seja, dinheiro. Neste caso, Ibaneis tem. O dinheiro é tanto, que ele doa o salário de governador a instituições de caridade; usa o carro particular para se deslocar de sua própria casa para o trabalho (sequer pisa na residência oficial, para, segundo diz, evitar gastos dos combalidos cofres públicos); reforma banheiros de rodoviárias públicas; manda reerguer barracos derrubados pelo governo anterior. E a conta sai do bolso dele.

Se a ideia é liderar um movimento nacional como fez Ulysses, que viveu 44 anos no Congresso Nacional e na mesa cativa do Piantella, não será muito fácil. Muitos passageiros que querem embarcar com ele são investigados. O voo é longo, o céu está só para brigadeiros, o desejado aeroporto de destino está inoperante para civis. Entretanto, não se trata de uma barreira intransponível.

Ibaneis tem muitas vantagens. É novo, carismático e popular, sem ter a característica do político populista. Como Bolsonaro, também tem o Brasil acima de tudo. A diferença é que olha para os mais humildes. Povo carente – costuma dizer o governador de Brasília -, que é cidadão como qualquer brasileiro. Mas que é esquecido pela Constituição Cidadã assinada pelo Dr. Ulysses.

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