Auto escudo do Supremo
Impeachment proibido cheira a bode na sala
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A decisão de Gilmar Mendes que entrega ao procurador-geral da República o monopólio dos pedidos de impeachment de ministros do STF não é apenas uma liminar. É um fato político calculado no tempo exato em que o país ainda respira a poeira levantada pela indicação de Jorge Messias. E essa poeira não baixou. Continua no ar, carregada de dúvidas, ruídos e reações engolidas pela pressa.
A rotina da semana mostrava um Senado dividido, um governo desgastado e uma opinião pública inquieta. A indicação de Messias não é episódio encerrado. É uma crise institucional em curso. Ela continua produzindo repercussões, desconfortos e questionamentos legítimos sobre transparência, pressões e critérios. Mas, de repente, como num corte seco, a conversa nacional muda de assunto.
Entra a liminar de Gilmar. Sai Messias das manchetes. Porque não foi uma substituição orgânica. Foi abrupta, precisa, conveniente. A sensação geral é bastante simples: colocaram um bode na sala para deslocar o foco do cheiro real.
Centro da conversa
A partir da liminar, a pauta passou a ser o poder concentrado na PGR, o alcance da decisão e a eventual reação do Senado. Davi Alcolumbre, que vinha sendo cobrado pelo atropelo na condução da indicação de Messias, ganhou de presente um tema para se reposicionar como defensor das prerrogativas do Congresso. Enquanto isso, a crise institucional ligada a Messias perde nitidez. Mas não desaparece. Apenas deixa de ser iluminada.
É aqui que a referência a Luzes da Ribalta ajuda a entender o movimento. Não se trata de glamourizar personagens. Trata-se de observar como o foco do projetor define o que o público vê. O impacto da indicação de Messias é real, atual e relevante. Mas a luz foi desviada. O país agora discute outra coisa.
A liminar pode até sobreviver ou cair no plenário. Isso é detalhe. O ponto central é que ela reorganizou a agenda no momento mais crítico da indicação de Messias. O debate sobre os riscos e fragilidades do processo de nomeação não terminou. Foi apenas empurrado para a sombra.
A crise continua viva. Mas, com o bode na sala, quase ninguém sente o cheiro.
