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Brasil não é bode expiatório

Império americano cai igual a castelo de areia e Donald Trump uiva como um animal em agonia

Publicado

Autor/Imagem:
Antonio Eustáquio Ribeiro - Foto Editoria de Artes/IA

Há pouco mais de uma semana realizou-se no Brasil a Cúpula dos BRICS, bloco que se iniciou com Brasil, Rússia, Índia e China, incorporando posteriormente a África do Sul, tendo sido mais tarde alargada, contando hoje com 11 países do chamado Sul Global (países em desenvolvimento) com grandes populações e PIB’s em rápido crescimento. O conjunto dos países que compõem os BRICS hoje são geradores de aproximadamente 30% do PIB mundial, e possui quase a metade da população mundial, aproximadamente 3,8 bilhões de habitantes, o que por si só evidencia sua importância.

Encerrada a cúpula, em encontro bilateral de chefes de estado, Brasil e China firmaram alguns compromissos, dentre os quais a construção de uma linha férrea bioceânica, ligando o recém inaugurado Porto de Chancay no Peru ao Oceano Atlântico no Brasil, iniciativa que encurtará o trânsito de mercadorias entre o extremo oriente e o Brasil em aproximadamente 12 dias, tornando estas mercadorias mais baratas, o que propicia a abertura de mais mercados para o Brasil tanto para a exportação quanto para a importação. Importante ressaltar que a China é hoje a maior exportadora de tecnologia, a maior compradora de produtos brasileiros e a maior investidora em projetos de infra estrutura do mundo.

Exatamente dois dias depois do encerramento da cúpula dos BRICS e do encontro bilateral Brasil – China, o presidente Trump anuncia tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros comprados pelos EUA, utilizando como justificativa, além da mentira sobre um suposto deficit norte-americano nas transações comerciais, a absolutamente injustificável alegação de que o ex presidente Bolsonaro estava sendo vítima de perseguição política no Brasil. Não custa lembrar que Bolsonaro está sendo processado no Supremo Tribunal Federal, em um processo absolutamente transparente e observando rigorosamente toda a legalidade prevista na legislação brasileira.

O que se depreende desta medida sem sentido, desprovida de justificativas lógicas, é uma tentativa do governo dos EUA de mandar um recado aos BRICS, hoje, na visão geopolítica mundial, a maior ameaça à outrora hegemonia daquele país. Porém, para não parecer tão óbvio aos olhos da população brasileira, Trump utilizou o álibi perfeito para, dentro de sua loucura planejada, justificar o injustificável, a situação de Bolsonaro e sua família.

Fora a família distópica do ex presidente, de alguns políticos mal-informados e mal-intencionados além de uma malta manipulada por estes sujeitos, ninguém acredita nesta fantasiosa justificativa. Um governo como dos EUA jamais arriscaria uma jogada tão grande em prol de um delinquente prestes a ser condenado e preso por, além de atentar contra a democracia brasileira, estar envolvido em roubo de joias internacionais conforme processo em curso na Procuradoria da República do Brasil.

A medida de Trump contra o Brasil, a mais arriscada e maior até aqui desde sua chegada à presidência, deixa claro os arroubos desvairados de um animal em agonia, que recusa a aceitar o que ocorre à sua volta: a ascensão de uma nova grande potência, a China, cuja economia em paridade de poder de compra já é maior do que a dos EUA, e a formação de um bloco que só vem crescendo e se tornando muito mais relevante do que o ultrapassado G7, os BRICS, que passam a jogar uma importância mundial a qual o governo norte-americano não está acostumado.

E por quê o Brasil, e não algum outro país do bloco foi vítima? Simples, a China já foi testada com tarifas que chegaram a mais de 100% e não se rendeu às chantagens de Trump. Pelo contrário, o impacto extremamente negativo que os EUA teriam com as retaliações chinesas obrigaram a um recuo vexatório de Trump, e continua com sua economia a crescer como um foguete. A Rússia, já há muito sancionada pelos EUA, União Europeia e outros países mostra uma resiliência incrível e continua a crescer. A Índia, além de ser uma potência nuclear tem uma legislação trabalhista frágil o que atrai e atrai inúmeras empresas norte-americanas para seu território, cuja produção é bem mais barata do que nos EUA, tornava politicamente mais difícil um ataque àquele país. Então, dos países que iniciaram os BRICS e que possuem grandes economias restou o Brasil, e que ainda oferecia um álibo ótimo para os desvarios trumpistas, o clã bolsonaro como bucha de canhão.

Portanto, não é preciso ser um “expert” em política internacional para perceber o que está por trás das tarifas de 50% de Trump contra o Brasil. Tratam-se de rasgos de dor de um outrora império intocável que se vê diante de uma nova geopolítica que o destrona do altar em que se colocou, mas que se recusa a aceitar o óbvio, embora enxergue muito bem o que esteja ocorrendo.

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Antonio Eustáquio é correspondente de Notibras na Europa

 

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