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Reaprendendo a não esperar

Importantes Demais para Serem Perdidas

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Autor/Imagem:
Emanuelle Nascimento - Foto Francisco Filipino

Merecemos alguém que nos enxergue como algo importante demais para perder. Não como opção, não como conveniência emocional, não como presença garantida. Merecemos ser vistas como aquilo que exige cuidado, escolha diária e responsabilidade afetiva. Nós não somos detalhe na vida de ninguém somos travessia.

Durante muito tempo, nos ensinaram a aceitar migalhas como se fossem gestos grandiosos. A agradecer o mínimo, a romantizar a ausência, a compreender demais quem não se esforça. Mas amadurecer é perceber que amor não é aquilo que quase fica. Amor é aquilo que se compromete em permanecer. Simone de Beauvoir já nos alertava que a mulher foi historicamente educada para esperar, enquanto o outro decide. Nós estamos reaprendendo a não esperar.

Ser importante demais para perder não significa ser idolatrada. Significa ser respeitada. Significa que o outro entende que nossas dores não são exagero, que nossos limites não são obstáculos e que nossa ausência não será facilmente substituída. Roland Barthes dizia que o afeto verdadeiro se revela no medo da perda não no controle, mas na atenção. Quem cuida é quem sabe que pode perder.

Nós não queremos mais relações em que precisamos nos diminuir para caber. Não queremos ser a parte compreensiva de histórias mal resolvidas, nem o descanso emocional de quem não quer responsabilidade. Merecer alguém é, antes de tudo, merecer reciprocidade. Amor que só funciona quando nos silenciamos não é amor; é conveniência.

A literatura contemporânea insiste nesse ponto porque a experiência insiste também. Elena Ferrante escreve sobre mulheres que aprendem, tarde ou cedo, que permanecer onde não são reconhecidas custa caro demais. Nós aprendemos que sair também é uma forma de amor-próprio e talvez a mais difícil.

Que isso fique como aprendizado coletivo: nós merecemos ser escolhidas com clareza, tratadas com seriedade e cuidadas como algo precioso. A vida continua quando paramos de implorar por presença e passamos a exigir consciência. Porque quem nos enxerga como importantes demais para perder jamais brinca com a possibilidade de nos perder.

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