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Voz de especialista

Infertilidade masculina ainda é tabu e precisa ser investigada

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Autor/Imagem:
Luiza Pollo

Quando o casal decide ter um filho, o mais comum é que a mulher vá ao ginecologista para receber orientações sobre a pausa nos métodos contraceptivos e dicas sobre os hábitos que podem ajudar na fertilização. Giuliano Bedoschi, especialista em reprodução humana, confirma que a participação do homem no processo de preparação para a gravidez costuma ser menor, mesmo quando o casal percebe dificuldade de engravidar. “A mulher para de beber durante a gravidez, mas tem marido que vai acompanhar o ultrassom e fica fumando lá fora”, lamenta o médico. “Infelizmente ainda é bastante comum atender pacientes sozinhas”.

O assunto é tabu entre muitos homens, apesar de eles serem os responsáveis em 30% a 40% dos casais que têm dificuldade para engravidar. Besochi informa que a infertilidade feminina é responsável por outros 30% a 40% dos casos de casais que procuram ajuda especializada e, nos restantes, os dois apresentam questões que impedem a gravidez. Ir ao médico junto com a mulher ou mesmo marcar uma consulta sozinho com um urologista pode ajudar a melhorar esse quadro, explica o especialista.

“Entre os fatores que podemos listar como causadores da infertilidade, principalmente nos últimos anos, estão o estresse, a poluição e os vilões de sempre: a obesidade, o álcool e o tabagismo.” Bedoschi explica que, em alguns casos, é preciso apenas três meses para que a mudança desses hábitos tenha efeito na taxa de fertilidade.

Mesmo assim, vale ressaltar que manter um estilo de vida saudável durante toda a vida tem efeitos mais garantidos. Um estudo publicado em julho deste ano na Human Reproduction Update, revista da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, aponta que a concentração de espermatozoides caiu de 50% a 60% em um intervalo de menos de 40 anos (entre 1973 e 2011) nos homens da América do Norte, Europa, Austrália e Nova Zelândia, onde o estudo foi conduzido. Obesidade, sedentarismo, tabagismo e consumo de álcool estão entre as possíveis causas da mudança.

Além do estilo de vida, outras questões que costumam interferir na infertilidade dos homens são infecções, como clamídia e gonorreia, traumas físicos nos testículos ou regiões muito próximas, ejaculação retrógrada – quando o sêmen é lançado para a bexiga –, azoospermia – ausência de espermatozóide no sêmen – e a varicocele.

Essa última é uma disfunção do sistema circulatório e uma das principais causas da infertilidade masculina, pois compromete a qualidade do sêmen. Giuliano explica que a condição tem tratamento, portanto, é importante que o homem procure um médico se perceber varizes bastante aparentes nos testículos.

Quando desconfiar. Mulheres de até 35 anos podem passar até um ano tentando engravidar antes de procurar ajuda especializada, explica o médico. “A partir dos 35 anos de idade, é preciso investigar as causas da dificuldade para engravidar depois de seis meses tentando. Há um declínio na quantidade e na qualidade dos óvulos. A fecundabilidade diminui”, explica Bedoschi.

Para os homens, a investigação costuma iniciar com uma conversa com o médico sobre o histórico do paciente. Se necessário, o especialista pode pedir um espermograma, exame que identifica três parâmetros: a quantidade de espermatozóides, a motividade – ou seja, como eles se mexem e quantos nadam ‘para frente’ – e o formato. Quando se constata alguma alteração, o médico poderá indicar o tratamento necessário.

Bedoschi alerta que o fim do tabu sobre o tema é imprescindível para que os homens procurem ajuda profissional. Além disso, ele ressalta que muitos casos de infertilidade têm solução. “Não é porque o casal procura um especialista em reprodução que será feita uma fertilização in vitro”, tranquiliza. Ele afirma que a concepção natural é, sempre que possível, a primeira opção.

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