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Sobrenome

Irmãos ajudam, de plaga em plaga, a buscarmos e vencermos nossas sagas

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@donairene13 - Foto Produção Editoria de Artes/IA

Lamento profundamente por quem é filho único. Nada contra, viu? Mas, sinceramente, vocês perderam uma das melhores experiências da vida: ter irmãos. Essa instituição sagrada, meio caótica, meio amorosa, que forma nosso caráter, destrói nossos brinquedos, compartilha (ou rouba) nossas roupas, e nos ensina desde cedo a negociar território como diplomatas do Oriente Médio.

No meu caso, fui a mais nova. A caçulinha. A protegida. Talvez porque, entre dois mais velhos que eu, eu parecia mesmo a mais frágil (ou a mais esperta). Vai saber. Sendo a quinta filha do meu pai e a terceira da minha mãe, já cheguei ao mundo num cenário onde as regras da casa estavam estabelecidas, mas ainda assim dava pra dar uma escapadinha básica. Afinal, todo mundo sabe que os pais cansam. Os primeiros filhos enfrentam pais rígidos, disciplinadores. Eu peguei uma versão mais flexível, quase um “modo econômico” da parentalidade.

Obrigada, irmãos.

Claro que nem tudo são flores. Irmãos te ensinam coisas… digamos… pouco pedagógicas. Talvez eu tenha aprendido palavras inadequadas para minha idade, talvez tenha assistido filmes que não eram pra minha faixa etária e participado de algumas “brincadeiras” que envolviam eu ser cobaia de experimentos. Mas sobrevivi e com boas histórias pra contar.

O fato é que meus irmãos abriram os caminhos. Aplanaram o terreno pra que eu pudesse passar tranquila. Foram eles que testaram os limites, que convenceram nossos pais de que sim, dava pra fazer certas coisas sem problemas. Depois que eles desbravaram essas trilhas, eu só fui seguindo, com muito menos drama e castigo.

E mais: irmãos são aquele tipo de gente que te conhece desde sempre, que viu seus piores cortes de cabelo e mesmo assim te ama. Que te zoa com força, mas que vira um leão se alguém de fora tentar fazer o mesmo. Ter irmão é ter plateia, torcida, crítica e abrigo. É saber que, mesmo quando o mundo estiver caindo, vai ter alguém que entende a sua origem, o seu código, a sua bagunça; e vai te ajudar a juntar os cacos (ou pelo menos rir com você enquanto tudo pega fogo).

Então, se você é filho único, meus sentimentos. De verdade. Porque por mais que a briga por espaço no sofá ou pela última colher de leite condensado tenha sido real, nada supera o privilégio de dividir a vida com quem tem o mesmo sobrenome e, em muitos momentos, o mesmo coração, as mesmas memórias, as mesmas lembranças.

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