Jair nadou, mas pra não morrer na praia, se rendeu ao Plim Plim

Conforme convém aos bolsonaristas raiz, a informação de que o governo de Jair Messias elevou em 75% os gastos de publicidade com a TV Globo soou como mais uma mentira esfarrapada da mídia comunista e fraudulenta. Povo de Sucupira, claro que é verdade e uma verdade oportunista. Diria mais: como a ideia é dar luz às obras do governo, a despesa acaba sendo uma questão de sobrevivência. Sei, no entanto, que faz parte do jogo maquiavélico do bolsonarismo desacreditar de tudo que eventualmente deponha contra o mito de barro. Eita povinho preconceituoso, invejoso, mas noveleiro até o último fio de cabelo. Vocês precisam entender que é quase impossível defender obras sem trabalho. Como no Brasil do Jair tudo é possível, quem sabe um dos autores da Globo crie um novo horário para, por exemplo, explicar que inaugurar o que não construiu também é um ato de amor.

Será que não percebem que, pré-candidato à reeleição, o presidente não sobreviverá sem o espaço do Plim Plim. Sem a Globo Lixo é praticamente impossível divulgar obras e programas realizados nos últimos três anos e sete meses. Não sei de onde saíram tantas obras assim, mas parece que está na justificativa desse novo gasto sucupirano. Falando sério, não alcanço nada de negativo em o governo federal anunciar na televisão dos Marinho, conhecida mundialmente como a maior rede de TV do Brasil. E aí pouco importa se agrada ou não aos bolsonaristas raiz. Raivosos por natureza, os ataques dos apologistas do caos continuarão recorrentes.

É a turma que não aceita a vitória alheia e, especificamente em relação à Globo, só se rende no silêncio matutino, vespertino e noturno do sofá da sala. Conhecem todas as receitas de Ana Maria Braga, flertam diariamente com o Encontro, não saem do É de Casa, se enfurecem com as notícias negativas do JH e do JN, mas a pedido do clã Bolsonaro, juram que não assistem ao canal carioca do Jardim Botânico. Como quem jura mente, é óbvio que essa mentira não cola mais nem em muro de chapisco. Pelos menos 11 entre dez bolsonaristas com os quais insisto na amizade não perdem um jogo do Campeonato Brasileiro ou da Copa do Brasil. E quem tem os direitos dos dois torneios?

Devidamente vacinado, tento encontrá-los de vez em quando à noite, mas esbarro na concorrência da novela Pantanal. E quem transmite o folhetim? A mesma emissora que não desliga nunca nos palácios do Planalto e da Alvorada. É nela que o Odorico Paraguaçu do Cerrado se pauta e pauta seus colaboradores mais próximos. Deixando de lado a falta de coragem dos que adoram silenciosamente a TV Globo, é de um amadorismo mais do que provinciano não se render à força do grupo. Também tenho restrições à programação, aos mexericos e à libertinagem desnecessária das telenovelas e a alguns exageros jornalísticos.

Entretanto, não desdenho do poder de comunicação e da qualidade da programação da empresa, tampouco passa pela minha cabeça de comunicólogo compará-la às supostas coirmãs, cujas afinidades são similares às de um leão faminto com uma gazela isolada da família. Sinceramente, desconheço o trabalho e as obras que serão citadas nas campanhas publicitárias que o governo irá veicular na Globo Lixo. Tomara que tudo seja real. Se as peças forem parecidas com as mostradas primitivamente no Ratinho, no Datena ou na TV do Bispo Edir Macedo certamente o telespectador da emissora dos Marinho irá dizer, e com certa razão, que o presidente da República só quer aparecer.

Trabalhar que é bom… Quanto ao custo da publicidade no Plim Plim, melhor gastar onde se é visto por multidões. Pelo menos foi vencida a tese de acabar com a Globo Lixo. Na verdade, essa tese nunca existiu. Enquanto durou, serviu apenas para inflar os ânimos daqueles que, mesmo desconhecendo as razões, teimam em acreditar nos discursos do mito de barro contra a corrupção, a moral e os bons costumes. É a Sucupira do Odorico Paraguaçu do Cerrado inteirinha na TV Globo. A diferença da ficção para a razão é a emoção. Agora, depois do mentiroso estardalhaço para atiçar os inocentes úteis, eis que teremos Jornal Nacional, Pantanal e Mengão sob os auspícios do governo Bolsonaro. Como diria o poeta Jorge Benjor, errare humanum est.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978