Pequenas intimidades
Janelas que, abertas, mostram tudo, mas não para todo mundo
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Existem coisas que, para o mundo, parecem banais. Mas, para mim, são como chaves raras que abrem portas secretas do meu ser. Não é qualquer um que atravessa essas portas. É preciso confiança, afeto e uma entrega silenciosa.
Ir à minha casa, por exemplo, não é só atravessar um portão. É entrar no território da minha vida, ver meus cantos, meus silêncios, meus livros empilhados e até minhas bagunças. É ser testemunha do lugar onde desarmo minhas máscaras.
Me ver chorando, então, é quase desnudar a alma. Lágrimas são íntimas demais, porque não têm filtro, não obedecem ao que o mundo espera. Quem me vê chorando enxerga a parte de mim que não sei disfarçar.
Até uma ligação de vídeo pode ser mais íntima do que abraços frios. Nela, mostro meu rosto sem ensaios, minha voz sem cortes, meu ambiente real com barulhos, sombras, roupas velhas, às vezes até com o silêncio pesado que não dá para esconder.
E quando conto minhas conquistas? Ah, isso é sagrado. Porque só conto a quem sei que não vai diminuir meu brilho, a quem sei que vai celebrar comigo. Cada conquista é uma pequena vitória contra os abismos que já enfrentei, e não quero vê-la encolhida na indiferença de ninguém.
Convidar para o meu aniversário, tirar uma foto nossa, pedir sua opinião… são gestos miúdos, mas carregam uma densidade imensa. São formas de dizer: “Eu te deixo entrar no meu mundo”.
Intimidade, afinal, não se mede por grandes declarações, mas por pequenos atos que abrem janelas daquilo que sou e não mostro a todos. Intimidade é confiar tanto que não me preocupo em ser frágil.