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ROUND 7 - O DESAFIO MORTAL DOS DEUSES-ASTRONAUTAS (PARTE II)

JOGAR OU MORRER NA ILHA DE LOST

Publicado

Autor/Imagem:
J. Emiliano Cruz - Foto Francisco Filipino

Juntamente com os outros competidores, os três amigos dirigiram-se para o espaço indicado e, então, observaram uma edificação de três andares em forma de heptágono. A estrutura tinha cerca de cem metros de largura, várias janelas na fachada e estava postada logo após a linha de chegada, sendo que, essa, se encontrava a uma distância de trezentos metros da linha de partida.

Após a multidão de jogadores estar postada na linha de partida, a sirene soou e todos começaram a correr.

Então, depois de dez segundos, a sirene soou novamente e, de imediato, a música começou a tocar. A maioria dos competidores conseguiu ficar imóvel no mesmo instante, conforme a orientação que fora passada. Entretanto, para horror de todos, aqueles que não foram suficientemente atentos, caíram, sumariamente fuzilados por tiros que partiram da edificação próxima da linha de chegada.

Em meio aos gritos dos competidores, os três amigos se entreolharam, aterrorizados.

-Dios mío, falou Cristina, com voz embargada.

-PQP, praguejou, Guilherme.

-Comme c’est absurde, gritou Charlie.

-Fiquem imóveis, estátua! Gritou, Guilherme.

-Batatinha frita 1,2,3, batatinha frita 1,2,3…após a música ter cessado, Guilherme gritou novamente para os amigos:

-Vamos, corram!

A medida em que o macabro ritual do jogo se repetia, outros jogadores iam sendo fuzilados. No telão colocado em cima da edificação da linha de chegada, os números dos eliminados iam aparecendo, ao mesmo tempo em que um alto-falante também os anunciava.

Após a prova ter finalmente acabado, o alto-falante anunciou:

-Total de jogadores classificados: duzentos e quarenta e dois.

-Total de jogadores eliminados: cento e quatorze.

Em pânico, alguns jogadores que cumpriram a prova tentaram partir para cima dos guardas de vermelho que estavam ao redor do campo, entretanto, pararam de súbito assim que viram submetralhadoras ostensivamente apontadas para eles.

-Jogadores, dirijam-se para o dormitório. A segunda prova começa amanhã às nove horas, falou o guarda-líder.

Simultaneamente, vários guardas vestindo uniformes azuis saíram do salão de conferência para recolher os corpos dos jogadores caídos na grama.

Abalados até medula e sem ação, os três amigos se entreolhavam, angustiados, até que Cristina falou:

-Vamos gente, esses caras estão armados e falam sério!

-Por supuesto, concordou Guilherme.

-Melhor obedecermos mesmo, concordou Guilherme.

Juntamente com os outros jogadores sobreviventes, eles dirigiram-se para o dormitório conforme a orientação recebida

Em meio ao clima de aflição que tomou conta do imenso aposento, os amigos, deprimidos, tentaram conversar.

-Parece que caímos em uma armadilha, lamentou-se, Charlie.

-Uma bruta armadilha, concordou Cristina, aflita.

Pensativo, Guilherme finalmente falou:

-Amigos, estou lembrando agora de onde conheço essa brincadeira da música batatinha frita 1, 2,3…e desse tipo de competição desumana!

-Sério? Tu sabes do que se trata? Questionou Cristina.

-Ou muito me engano, ou os organizadores desse jogo absurdo estão copiando o modus operandi de uma série coreana de grande sucesso que assisti há alguns anos: Round 6. Vocês não viram a série em alguma plataforma?

-Lembro vagamente de ter ouvido falar, mas não assisti, disse Charlie.

-Não costumo assistir séries em plataformas, só vejo filmes na TV aberta e no cinema, mas agora que você lembrou, também lembrei que uma amiga comentou essa cena comigo. E o que mais acontece na série? Perguntou, Cristina.

-Bem, pelo que lembro, Round-6 era um jogo de seis fases onde os jogadores tinham que sobreviver a provas que eram sempre mortais. Quem conseguiu chegar vivo ao fim do jogo foi o vencedor e recebeu uma imensa fortuna como prêmio.

-Quelle chose horrible, exclamou, Charlie.

-Que absurdo, disse Cristina. E qual era o objetivo de quem promoveu isso?

-Era um espetáculo montado para divertir bilionários, os patrocinadores do evento chamados de vips, explicou Eduardo.

-Dios mío, eu sabia que tinha alguma coisa errada nessas benesses todas que eles nos ofereceram.

-Eu também desconfiava disso, mas era tudo tão tentador né…nos deram um bom dinheiro na mão, passagens de ida e volta grátis e ainda a promessa de uma chance para ficarmos milionários, lamentou-se, Charlie.

-Se for mesmo isso que pensei, transformaram a ficção em realidade! Bem, estamos todos cansados. Vamos tomar banho e dormir. Talvez amanhã possamos ter mais informações sobre esse circo macabro, falou Guilherme.

Acordados pelo som da sirene que já conheciam, os jogadores remanescentes foram orientados pelo líder da guarda a vestirem os seus uniformes, tomarem café da manhã no refeitório e, depois, apresentarem-se no salão de conferências.

Uma vez todos os ansiosos e aflitos jogadores estarem postados no salão, rodeados pelos guardas agora armados, o líder-alpha começou a falar:

-Parabéns a todos por terem passado de fase! Vocês agora são duzentos e quarenta e dois jogadores, como já anunciado. Creio que todos compreenderam melhor a necessidade de estarem completamente concentrados e engajados no jogo.

-Bem, nesse momento, o prêmio de cada um de vocês soma o valor aproximado de quarenta e um mil euros. Esse valor vai subir à medida em que o número de jogadores for diminuindo, até restarem sete classificados para a rodada final. Entretanto, devido ao risco que todos já testemunharam, vocês é que decidem se a competição deve parar agora ou prosseguir. Caso a maioria decida pelo término da competição, cada um de vocês receberá o valor que eu mencionei e estarão liberados para voltarem para casa, falou o líder-alpha.

-Caso a maioria decida jogar mais uma fase, ao final da mesma haverá outra votação e assim sucessivamente.

Último aviso: se, pela vontade da maioria, o jogo continuar, todos deverão jogar ou serão eliminados da forma que já observaram na fase anterior, complementou sinistramente o líder-beta.

Um zum-zum percorreu o salão e uma voz gritou:

-Então não posso desistir por minha própria vontade? Questionou Guilherme.

Tomando a palavra, o líder-alpha falou assertivamente:

-Vocês aceitaram participar livremente da competição e agora devem se submeter às regras da mesma. A maioria decide democraticamente sobre os rumos do jogo.

-Agora vamos proceder a votação da seguinte maneira: cada jogador vai se dirigir ao painel a sua frente e apetar um botão. Para desistir: botão azul, para prosseguir, botão vermelho. Vamos começar em ordem crescente, jogador número um, por favor, dirija-se ao painel e vote livremente segundo a sua livre vontade e convicção, orientou o líder-beta.

Todos os jogadores olharam a sua volta e viram os guardas levantarem as armas em sua direção. O jogador número um, um asiático, adiantou-se e caminhou até o painel. Hesitando por alguns segundos, apertou o botão vermelho.

Os votos foram se sucedendo segundo a ordem estabelecida, ao mesmo tempo em que o telão registrava cada um deles e, imediatamente, fazia a atualização dos totais de cada cor.

Eduardo, Cristina e Charlie olharam uns para os outros, falando quase ao mesmo tempo:

-Azul! A seguir, deram-se as mãos.

Após Guilherme, o jogador número trezentos e cinquenta e seis votar, o telão registrou os seguintes totais:

Votos azuis, 116, votos vermelhos, 126.

-Não acredito! espantou-se, Guilherme.

-Qué hicieron estos locos?

-Absurde!

Retomando a palavra, o líder-alpha falou:

-Muito bem, o jogo prosseguirá! Segunda fase, próxima prova: dividam-se em equipes de dez. Os dois jogadores que sobrarem devem se dirigir para a sala de exclusão, ao fundo.

Uma intensa troca de olhares e palavras ocorreu entre os jogadores, todos se movimentando na tentativa de formar ou integrar uma equipe.

Guilherme, Cristina e Charlie ficaram juntos e, logo, foram procurados por outros jogadores, aceitando os pedidos de adesão à sua equipe tão logo esses eram feitos até a dezena se completar.

Após as vinte e quatro equipes serem formadas, um homem e uma mulher de idade avançada, desesperados, corriam em círculos rogando sem sucesso por uma vaga. Imediatamente, foram seguros pelos guardas e levados para a sala mencionada pelo líder.

-Pobrecitos, lamentou Cristina.

-E não podemos fazer nada para ajudá-los, falou Guilherme, pesaroso.

Terminada a formação das equipes, o líder-beta deu nova orientação aos jogadores:

-As equipes receberão números de um a vinte e quatro. Haverá uma prova eliminatória de cabo de guerra entre as equipes um e dois, três e quatro e assim sucessivamente, até chegar às equipes vinte e três e vinte e quatro.

– A primeira disputa ocorrerá entre as equipes um e dois dentro de quinze minutos. Dirijam-se todos ao campo de provas número cinco, complementou o líder.

-Equipe um, somos nós! Vamos iniciar o show, falou Guilherme.

-Melhor, assim saberemos logo se vamos morrer ou viver mais um dia, disse Cristina.

-Cabo de guerra! Amigos, precisamos reunir logo a equipe. Tenho experiência nesse exercício e algumas dicas serão preciosas para nossa sobrevivência, apressou-se a dizer, Charlie.

-Precisamos mesmo disso, amigo! Temos quatro mulheres no grupo contra apenas duas do outro lado, analisou Guilherme.

-E, além disso, acho que em média os homens da equipe deles são mais fortes, complementou Cristina.

Assim que chegaram ao campo de provas, Guilherme chamou todos os membros da equipe para ouvirem as orientações de Charlie, falando com expressão fechada:

-Façam tudo como ele disser, nossas vidas dependem disso!

Com um fosso retangular de cem metros de profundidade entre os contendores, a disputa começou renhida com muitos gritos emitidos pelos jogadores das duas equipes.

Inicialmente, a medição de forças favoreceu a equipe dois e a corda trazia a equipe um cada vez mais para perto do fosso.

Todavia, aos poucos as orientações de Charlie, seguidas disciplinadamente por todos os jogadores da equipe, começaram a fazer efeito. Lentamente os jogadores da equipe dois foram sendo arrastados para a proximidade do fosso até que, em desespero, nele mergulharam soltando urros horripilantes.

Imediatamente, o alto-falante anunciou:

-Jogadores 23, 45, 98, 145, 176, 209, 256, 298, 326 e 336, eliminados!

Estatelados no chão juntamente com os outros integrantes da equipe, os três amigos começaram a conversar entre si com os olhos esbugalhados:

-Ainda não foi dessa vez que partimos dessa para melhor, balbuciou Guilherme.

-Gracias, amiguito Charlie, falou Cristina.

-Temos que agradecer a todos da equipe, especialmente às nossas corajosas meninas, replicou Charlie.

Após todas as disputas terem sido realizadas e uma vez definidas as equipes vencedoras-sobreviventes, o líder-beta anunciou:

-O jogo acabou por hoje. Parabéns aos jogadores classificados! Dirijam-se ao dormitório e descansem para próxima fase.

A caminho do dormitório, os três amigos viram os dois excluídos da segunda fase do jogo retornando junto com os sobreviventes.

-Olha, os dois que ficaram fora da prova. Vão voltar ao jogo, surpreendeu-se Charlie.

-Esse jogo é mesmo imprevisible, falou Cristina.

-Menos mal, só espero que esses coitados votem para encerrar esse pesadelo amanhã, disse Guilherme.

Guilherme olhou para trás e viu uma das companheiras de equipe, uma moça de origem oriental, caminhando junto deles

-Você foi muito importante para a vitória da nossa equipe. Eu sou Guilherme, posso perguntar o seu nome?

-Akira, respondeu a jovem.

-Você gostaria de se juntar ao nosso grupo permanente? Juntos somos mais fortes para sobreviver a esse jogo insano.

-Obrigado, talvez em outro momento, respondeu Akira. Por enquanto, prefiro jogar sozinha.

-Como quiser, mas saiba que sempre será bem-vinda no nosso grupo, concedeu Guilherme.

Na manhã seguinte, o líder-alpha novamente iniciou a sua peroração:

-Jogadores, vocês agora são cento e vinte e dois e o prêmio a que tem direito no momento soma cerca de oitenta e dois mil euros para cada um. Novamente, vocês devem decidir, por maioria, se querem receber esse valor e retornar para suas vidas normais ou continuar o jogo e aumentar o prêmio. Já sabem como votar, então dirijam-se ao painel do e expressem a sua livre vontade.

-Vamos começar a votação por ordem decrescente dessa vez. Jogador 456, você é o primeiro a votar, falou o líder-beta.

Guilherme dirigiu-se ao painel e apertou o botão azul, gritando, após ter votado:

-Vamos parar com essa loucura! Votem para preservar as suas vidas!

A seguir, o jogador 77 votou na cor vermelha e gritou:

-Não passei por tudo isso só para ganhar essa ninharia! Vamos jogar mais uma fase!

Um a um, os jogadores votaram novamente. Após o voto do jogador número um, a totalização dos votos apresentou o seguinte resultado:

Total de votos azuis: 57.

Total de votos vermelhos: 65.

Indignado, Guilherme falou:

-Esses idiotas…não é possível!

-Están cegados por el dinero, lamentou Cristina.

-Como pode isso? Questionou Charles.

-Jogadores, o jogo vai prosseguir! Terceira fase, dividam-se em duplas, ordenou o líder-beta..

-E agora, amigos, como faremos? angustiou-se Charles.

-No puedo decirlo…hesitou Cristina.

Baixando a cabeça, Guilherme falou:

-Amigos, sinto ter que dizer isso, mas é melhor que não façamos dupla entre dois de nós.

-Por que? surpreendeu-se Charles.

-Si, por que no, amiguito? reverberou Cristina.

-Pelo que lembro da série, isso provavelmente é uma armadilha…a dupla pode não jogar junta e sim um contra o outro, entenderam?

-Dios mío!

-Que sacanagem!

-É terrível, mas vamos ter que fazer mais uma escolha cruel, amigos! Outra pessoa terá que morrer se quisermos continuar vivos. E contra um de vocês, eu não conseguiria!

Compreendendo a fundo a situação, Cristina e Charlie, com uma expressão sombria, emudeceram.

Os três amigos se abraçaram, desejaram sorte um ao outro e, angustiados, foram confabular com outros jogadores para formarem dupla com alguém.

Tendo vencido a sua disputa, Guilherme, já no salão de conferências, não tirava os olhos da entrada, desejando desesperadamente ver os seus amigos cruzaram a entrada. Agradecendo a todos os deuses de que lembrou, viu Cristina e Charlie adentrarem o recinto quase ao mesmo tempo e correu para abraça-los.

-Pasó raspando…disse Cristina, chorando.

-Comigo também foi por pouco, falou Charlie, trêmulo.

-Jamais vou esquecer o olhar do meu oponente, angustiou-se Guilherme.

Fase após fase, o roteiro do jogo repetiu-se: votação do botão vermelho superando os votos do botão azul, número de jogadores diminuindo e provas cada vez mais desafiadoras. Assim foi até chegar a sétima e prometida última fase.

………………….

A Parte III deste folhetim será publicada na quarta-feira, dia 30

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