Ônus da prova
Jornalismo honesto não se faz sem apresentar provas
Publicado
em
Nos últimos dias, Alexandre de Moraes voltou a ocupar o centro do noticiário. A razão foi uma reportagem assinada pela jornalista Malu Gaspar, publicada em O Globo, na qual ela afirma que, segundo suas fontes, o ministro do STF teria se encontrado com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para pedir que o Banco Master não fosse liquidado, o que, ao fim, acabou acontecendo. A suspeita levantada é de que a esposa do ministro, advogada, manteria um contrato milionário de prestação de serviços com a instituição financeira.
Diante da repercussão, tanto o ministro quanto o presidente do Banco Central divulgaram notas oficiais negando qualquer irregularidade. Segundo eles, as reuniões ocorreram exclusivamente para tratar dos impactos da chamada Lei Magnitsky, especialmente após as sanções impostas pelos Estados Unidos ao ministro. Não houve, afirmam, qualquer pedido ou interferência em processos de natureza financeira ou regulatória.
O que me causou ainda mais estranhamento foi a reação de outro jornalista de O Globo, que se apressou em afirmar que Moraes deveria “provar sua inocência”. Essa afirmação é, no mínimo, preocupante. Ela contraria frontalmente o ordenamento jurídico brasileiro, que se fundamenta na presunção de inocência. Ninguém tem o dever de provar que é inocente; quem acusa é que precisa apresentar provas consistentes.
Em sentido oposto, a jornalista Daniela Lima, do UOL, adotou uma postura mais cautelosa e minimizou as informações trazidas por Malu Gaspar. Segundo as fontes de Daniela, as conversas entre Galípolo e Moraes se restringiram, de fato, aos impactos das sanções impostas pelos Estados Unidos com base na Lei Magnitsky. Para ela, seria leviano imputar ao ministro uma acusação tão grave, especialmente num momento em que Moraes está sob intensos holofotes por conta de condenações recentes envolvendo pessoas poderosas.
A esse respeito, o meu entendimento é que jornalistas devem apresentar notícias e opiniões ao seu público, mas não se transformar, eles próprios, na notícia. No caso específico de Malu Gaspar, é importante considerar seu histórico como uma espécie de porta-voz da da operação Lava Jato. Na melhor das hipóteses, a jornalista foi usada por grupos corruptos para perseguir pessoas e destruir reputações, num processo que acabou se revelando como o maior escândalos do Judiciário brasileiro.
Por isso tudo, sigo pensando que é preciso muito mais do que fontes anônimas para sustentar acusações dessa gravidade contra um ministro da Suprema Corte. Fontes podem ser plantadas, podem ter interesses escusos e podem estar a serviço de disputas políticas e pessoais. Jornalismo responsável exige cautela, contexto e provas. Sem isso, o risco não é apenas errar, é colaborar para a corrosão da própria credibilidade da imprensa.