Lugar ao sol
Jovem do Nordeste vive entre a busca por renda e o sonho da qualificação
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No Nordeste, milhares de adolescentes e jovens enfrentam um dilema diário: garantir uma renda para ajudar a família ou investir nos estudos em busca de melhores oportunidades no futuro. O trabalho jovem, que deveria ser uma ponte para o aprendizado profissional, muitas vezes se transforma em uma necessidade urgente diante das desigualdades sociais que marcam a região.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o Nordeste concentra uma das maiores taxas de desemprego juvenil do país. Entre os jovens de 18 a 24 anos, mais de 30% estão fora do mercado de trabalho. A falta de experiência é um dos principais entraves.
“É um ciclo difícil de quebrar: o jovem precisa do emprego para ganhar experiência, mas não consegue o emprego justamente por não ter experiência”, explica Ana Paula Ferreira, economista do Ceará.
A Lei da Aprendizagem, que obriga empresas de médio e grande porte a contratarem jovens entre 14 e 24 anos como aprendizes, tem sido uma das principais alternativas para reduzir a exclusão dessa faixa etária. No entanto, especialistas destacam que a implementação ainda é desigual.
Em capitais como Recife, Salvador e Fortaleza, há mais oportunidades em setores como comércio, serviços e indústria. Já no interior, muitos jovens acabam restritos a trabalhos informais, sem direitos trabalhistas nem perspectiva de crescimento.
Em Campina Grande (PB), o estudante Lucas Santos, de 17 anos, conseguiu sua primeira oportunidade como jovem aprendiz em uma rede de supermercados. “O salário não é alto, mas ajuda em casa. O mais importante é que estou aprendendo e já penso em fazer um curso técnico”, conta.
Por outro lado, no sertão do Piauí, Maria Clara, de 19 anos, nunca teve a chance de entrar em um programa de aprendizagem. “O que aparece é trabalho de diarista, babá, essas coisas. Queria estudar mais, mas tenho que ajudar em casa”, diz.
Especialistas defendem que a ampliação de cursos técnicos, bolsas de estudo e parcerias entre empresas e escolas pode transformar o cenário. “O trabalho jovem precisa estar aliado à formação. Só assim deixará de ser mera sobrevivência para se tornar um verdadeiro caminho de ascensão social”, afirma o sociólogo pernambucano Carlos Moura.
Programas sociais como o Bolsa Família e o Pé-de-Meia, lançado recentemente pelo governo federal, também são apontados como medidas que contribuem para manter os jovens na escola, reduzindo a pressão para o ingresso precoce e informal no mercado.
O desafio do trabalho jovem no Nordeste revela um contraste: enquanto alguns conseguem trilhar o caminho da formação profissional, muitos ainda ficam presos à informalidade. O futuro dessa geração depende, sobretudo, de políticas públicas consistentes e da ampliação de oportunidades que conciliem renda e educação.
“Não se trata apenas de dar emprego. É preciso dar perspectiva”, resume a economista Ana Paula.