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Parque da Cidade

Kalungas promovem oficinas em feira rural

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Autor/Imagem:
Carolina Paiva, Edição - Foto/Divulgação

Mais do que um ponto de venda de produtos da agricultura familiar, a Feira Rural do Parque da Cidade é um momento de troca de histórias e saberes tradicionais entre produtores e consumidores. Neste domingo (19), em alusão ao Mês do Cerrado, o evento tem a participação especial de kalungas da comunidade Vão de Almas (Cavalcante-GO), que faz parte do maior território quilombola do Brasil.

Além dos tradicionais produtos vendidos na feira, as kalungas Fiota e Dirani Maia, representantes da comunidade, levarão alimentos da rica culinária quilombola e também oficinas sobre o processamento típico da farinha de mandioca, principal subproduto dessa raiz tuberosa preparado por quase todas as famílias do quilombo Kalunga.

Elas também vão demonstrar como fazem paçoca de gergelim no pilão de madeira de pequi, processo que exala um aroma especial. A paçoca é umas das principais sobremesas típicas dos kalungas passada de geração a geração ao longo dos mais de 300 anos de história do quilombo.

“Cozinhar também é um ato de resistência dos quilombos”, pontua o extensionista da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater) José Nilton Campelo, que elogia a agricultura sustentável praticada pelos quilombolas e fundamentada em respeito ao cerrado.

“É perceptível a luta desses povos pela preservação da cultura no uso de tecnologia ancestral, no preparo dos alimentos, no cuidado com a terra, na comunhão entre cozinheiros, nos utensílios utilizados. É a oportunidade dos visitantes da feira observarem como o alimento, o cuidado com a terra e com a comida dizem muito sobre um contexto social brasileiro”.

Métodos tradicionais
Com forte tradição na agricultura e extrativismo, o povo kalunga pratica plantio de baixo carbono e se baseia no conhecimento ancestral para plantar no ritmo da natureza, dispensando o uso de agrotóxicos. As comunidades plantam em pequenas roças, geralmente menores que um hectare, onde praticam a agricultura de subsistência, com a venda do excedente. Ainda há o extrativismo de frutos do cerrado, criação de bovinos, suínos e aves, bem como o cultivo de frutas.

Fiota, nascida e criada na comunidade Vão de Alma, mãe de sete filhos e avó de sete netos, casada com Calisto, faz de tudo um pouco. Dirani, além de seus próprios filhos, cria outros de um irmão falecido.

As duas são coletoras de frutos nativos como coco-indaiá, tingui, baunilha, cajuzinho e mangaba. Produzem farinhas e óleos, plantam arroz, mandioca, feijão, gergelim, quiabo, abóbora, milho e algodão – a partir do qual confeccionam até tapetes com o linho obtido.

Vão de Almas
O vilarejo da Comunidade Kalunga do Vão de Almas fica em meio a serras de difícil acesso, a 370 km a nordeste de Brasília. É uma das áreas habitadas de cerrado mais preservadas em Goiás, uma vila repleta de casinhas de tijolos de adobe, telhado de palha e chão de terra batida.

São 1.075 pessoas distribuídas em aproximadamente 215 famílias que habitam o maior quilombo em extensão territorial do Brasil. A comunidade produz quase todos os itens utilizados na alimentação e tem uma economia baseada na troca, em vez de trabalho assalariado e compra de produtos. Os kalungas praticam extrativismo e buscam outras alternativas sustentáveis para o desenvolvimento do território.

Em fevereiro deste ano, o Programa Ambiental da Organização das Nações Unidas (ONU) fez o registro do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga como o primeiro Ticca (sigla internacional para Territórios e Áreas Conservadas por Comunidades Indígenas e Locais) do Brasil.

O título global é atribuído a territórios comunitários e tradicionais conservados nos quais a comunidade vive em profunda conexão com o lugar, destacando-se em processos internos de gestão e governança que registram resultados positivos na conservação da natureza e aumento do bem-estar do seu povo.

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