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Olinda

Ladeiras ficam mais íngremes e ameaçam Patrimônio da Humanidade

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Júlia Severo - Foto Divulgação

Um relatório técnico produzido por pesquisadores da Universidade de Pernambuco (UPE) revela que as ladeiras e encostas do Sítio Histórico de Olinda, reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO desde 1982, estão se tornando progressivamente mais íngremes e instáveis, com potencial de comprometer a integridade do conjunto arquitetônico e urbanístico da cidade histórica.

O estudo faz parte de um projeto de avaliação geotécnica realizado em parceria entre a Escola Politécnica da UPE, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ao longo de seis meses, equipes de especialistas analisaram o solo, a inclinação das encostas e os efeitos das intervenções humanas no sítio urbano tombado, que abrange cerca de 1,2 km² de área histórica repleta de ruas íngremes, casarões, igrejas e monumentos coloniais.

De acordo com o coordenador do projeto, professor Alexandre Gusmão, o estudo identificou um aumento na declividade dos morros, fenômeno associado à degradação do solo causada por movimentos lentos da encosta e por intervenções urbanísticas inadequadas, além da falta de manutenção de drenagens e infraestruturas que poderiam mitigar o processo.

“Os locais visitados apresentaram movimentos de solo que tornam as encostas mais íngremes. Isso pode agravar fissuras e trincas em edificações históricas, sobretudo durante períodos chuvosos, aumentando o risco de danos às construções tradicionais”, explicou o professor.

Entre os pontos do Sítio Histórico em alerta estão áreas próximas ao Seminário de Olinda, fundos da Igreja da Sé, Ladeira da Misericórdia, Bica dos Quatro Cantos, Igreja de Nossa Senhora do Amparo e a Rua Nossa Senhora de Guadalupe, onde o relatório detectou encostas com ângulos de inclinação superiores a 50 graus, associados a problemas como deslizamentos, erosões e queda de blocos de solo.

O estudo destaca também problemas patológicos em edificações patrimoniais, como infiltrações e deterioração de materiais, agravados pela ação de fungos e cupins, que reduzem a vida útil das estruturas históricas. O professor Gusmão ressalta que a ação combinada de solo movediço e edificações deterioradas pode criar cenários de risco, especialmente se não houver ações preventivas e projetos de engenharia adequados.

Especialistas apontam que a degradação das encostas tem sido intensificada pela ocupação humana desordenada, pela remoção de vegetação nativa e por obras de drenagem e cortes de solo sem critérios técnicos apropriados. A retirada de vegetação, por exemplo, aumenta a infiltração de água no solo, reduz sua resistência e favorece processos de movimentação de massa, como deslizamentos.

O relatório sugere a necessidade de mapear detalhadamente as áreas de risco, identificar diretrizes para estabilização das encostas e mobilizar o poder público e órgãos gestores para intervenções de engenharia que preservem tanto a integridade do solo quanto o patrimônio construído, evitando que a degradação comprometa monumentos históricos e a experiência urbana do sítio tombado.

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