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Salário mínimo

Lado obscuro da grande imprensa não tem limites

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@donairene13 - Foto de Arquivo

Neste Natal, confesso que fui pega de surpresa. Pleno 25 de dezembro, trabalhadores finalmente em casa, desfrutando da companhia da família, mesa farta como há muito tempo eu não via e não por acaso. Depois de anos de aperto, os resultados positivos da economia começaram a aparecer de forma concreta: desemprego em queda, inflação sob controle, crescimento do PIB acima do esperado e, principalmente, mais gente voltando a comer melhor, a pagar as contas e a respirar um pouco mais aliviada. Era dia de celebração. Mas lá estava o terrível editorialista do Estadão, cumprindo o papel de estragar o almoço alheio, criticando a política de aumento real do salário mínimo.

Antes mesmo de entrar no mérito dessa crítica, acho fundamental refletir sobre quem fala e de onde fala a chamada grande imprensa brasileira. Essa imprensa tradicional, concentrada nas mãos de cinco famílias bilionárias, não faz parte do povo brasileiro. Não acorda de madrugada para pegar ônibus lotado, não depende do salário mínimo para viver, não sente no bolso o preço do gás, do aluguel ou da comida. Essas famílias não representam a maioria da população. Representam uma casta financeira, com interesses muito bem definidos.

É a mesma imprensa que, no passado, estampou em suas páginas anúncios de compra e venda de pessoas escravizadas. A mesma que foi contra a criação do 13º salário. A mesma que apoiou golpes de Estado, ajudou a legitimar ditaduras e foi cúmplice de perseguições, torturas e assassinatos de milhares de brasileiros. Não há nada de neutro, democrático ou representativo nisso. Essa imprensa não expressa o pensamento do povo brasileiro, mas apenas os interesses de quem sempre esteve no topo.

E aí voltamos ao aumento real do salário mínimo. É quase um ritual previsível: basta um partido de esquerda chegar ao poder para que surja, imediatamente, o discurso do apocalipse. O Brasil estaria “à beira do abismo”, “prestes a quebrar”, a “virar uma Venezuela”. O roteiro é velho, gasto e já desmentido pela realidade inúmeras vezes.

A defesa do congelamento do salário mínimo ou de reajustes limitados à inflação é de uma repugnância difícil de colocar em palavras. Em um país com uma das maiores concentrações de renda do mundo, isso não é prudência fiscal, é crueldade social. Vendem essa ideia como moderna, responsável, técnica. Não é. Nunca foi. Essa política nunca deu certo, nunca gerou desenvolvimento sustentável, nunca reduziu desigualdades. Pelo contrário: só aprofundou o abismo social.

E há um ponto que raramente é dito com clareza: essas famílias que controlam os grandes veículos de comunicação também atuam em outros setores estratégicos da economia: educação privada, sistema financeiro, mercado imobiliário, planos de saúde. Isso, evidentemente, influencia a cobertura jornalística. Não se trata de opinião isolada, mas de defesa de interesses econômicos próprios.

Para essa imprensa, aumentar o salário do pobre é “quebrar o país”. Mas os mais de R$ 60 bilhões em emendas parlamentares, tudo bem. R$ 5 bilhões em fundo eleitoral, normal. Austeridade só vale quando é para quem vive do trabalho. Quando é para sustentar privilégios, o discurso some.

Por isso, ler um editorial desses no dia de Natal não é apenas incômodo, é revelador. Revela quem essa imprensa defende, quem ela teme e, sobretudo, quem ela despreza: o trabalhador.

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