Cultura
Lampião, cordel e xilogravura, a arte que define o Nordeste
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No coração do Nordeste, onde o sol desenha sombras longas sobre a terra seca e o vento carrega histórias de valentia, vive uma arte que é resistência e memória: o cordel e a xilogravura. Entre versos rimados e imagens talhadas em madeira, pulsa a alma de um povo que transformou dor em poesia e luta em beleza.
Lampião, o rei do cangaço, tornou-se mais que personagem — virou mito, símbolo e inspiração. Sua figura atravessa gerações, estampada nas capas de cordéis, entalhada nas xilogravuras que decoram feiras e museus. O bandoleiro que desafiou o poder é, nas mãos dos artistas populares, um herói de papel e tinta, um eco das histórias contadas ao pé da rede, à luz do candeeiro.
O cordel é o jornal do povo, a literatura que fala de amor, política, fé e vingança com a simplicidade e a força da fala nordestina. Cada folheto é uma janela para o imaginário coletivo, onde o sertanejo encontra voz e o cotidiano ganha poesia. Já a xilogravura, irmã das palavras, eterniza o que o verso canta — cactos, vaqueiros, santos, mulheres fortes e o próprio Lampião, de chapéu de couro e olhar firme.
Juntos, cordel e xilogravura contam o Nordeste não apenas como lugar, mas como essência. São arte e identidade, resistência e invenção. São o retrato de um povo que não se deixa apagar, que transforma a madeira em palavra, o silêncio em canto, e o sertão em eternidade.
No fim, entender o Nordeste é escutar o som de uma viola, folhear um cordel e se perder nas linhas de uma xilogravura. Porque ali, entre o preto e o branco da tinta, pulsa colorida a alma de uma região inteira.