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Leany abre ferida no BRB. Quem vende carteira, vende mesa e cadeira

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O robusto e sofisticado mercado bancário brasileiro produziu no século passado vários impérios. A nossa política econômica também fez sucumbir ícones nessa atividade econômica que é robusta pelas taxas de juros praticadas e extorsiva cobrança de serviços. Para quem vende dinheiro é sofisticada a tecnologia adotada, reconhecida mundialmente.

Os bancos estaduais desapareceram porque a conta-movimento – que é especialmente o depósito cativo do salário dos servidores públicos – que dava sobrevida a cada um dos bancos estaduais, além de outras carteiras exclusivas, foi leiloada para bancos privados por seus respectivos governadores.

O Banco de Brasília aparece como uma curiosa exceção no cemitério milionário que enterrou o Banerj (Rio de Janeiro), Banespa (São Paulo), Bemge (Minas Gerais), Besc (Santa Catarina) e muitos outros bancos estaduais. A lógica defende a tese de que o Estado não deve ser empresário, muito menos em um cenário onde gigantes nacionais e internacionais dominam o mercado.

Sucessivas fusões de empresas do setor no Brasil fazem engordar as redes privadas que somam milhares de agências bancárias, um fato raro no mundo. Mas o BRB, que tem um erre em sua sigla sem sentido algum, foi mantido. Aliás, deveria ter sido rebatizado de BDF, mas com a era Rollemberg, após este assumir que governa apenas Brasília, a instituição ganhou fôlego para o atual nome adotado.

As questões de reconhecidos especialistas do setor colocam em cheque a necessidade do Distrito Federal ser proprietário de um banco, quando os maiores estados brasileiros deixaram a atividade para quem é do ramo. Nesta semana uma declaração da secretária de Planejamento, Leany Lemos, fez entender que uma alternativa seria o BRB vender sua carteira. Desmentido pelo próprio banco, o assunto estremeceu os bastidores do Buriti.

Não pode existir o Banco de Brasília se as contas dos servidores do GDF deixarem os seus cofres. O Banco do Brasil achou que desapareceria quando perdeu a conta-movimento do Governo Federal e continua aí, mas sua realidade é outra. Na dimensão brasileira, acreditam os concorrentes, o BRB é um micro pentelho financeiro que tem meia dúzia de agências e nenhum projeto concreto para o crescimento regional.

Não é bem assim. Existe a oportunidade de ocupar um importante espaço no Centro-Oeste, desde que interesses corporativos laborais deixem de impor alguns votos como moeda aos governantes e a sua arquitetura seja repensada. O Banco de Brasília pode, sim, ser um banco de investimentos regional.

Alguns especialistas consultados afirmam que a participação dos estados vizinhos em uma instituição de fomento ao desenvolvimento regional faria do BRB uma empresa viável, com perspectiva de novos horizontes. Ou a sua venda total (não a de sua carteira de salários que atualmente nem são depositados) poderia livrar os contribuintes candangos de uma instituição que tem tudo para ficar onde está ou iniciar o caminho do mesmo cemitério que fez sucumbir bancos dos maiores estados brasileiros.

Ou seja, na posição de uma instituição que pode ser comparada a uma factoring pela sua dimensão, o BRB é uma pedra no sapato de qualquer governador – exceto os que negociam bezerros. Quanto mais cresce a população do Distrito Federal, mais ela é assediada e conquistada pelos grandes bancos e menor interesse tem a nova clientela sobre o banco estatal do Buriti.

O Banco de Brasília está espremido pela dinâmica e oxigênio de gigantes como Santander, Bradesco, Itaú, Citibank e outros gamebanks – perdoem o neologismo deste escriba – que anexariam o BRB em 24 horas. A carteira seria apenas um bônus para valorizar a transação e salvar o governo de Rollemberg, que passaria a ser devedor do espólio.

De outro lado, existe o Sindicato dos Bancários que cumpre o legítimo papel de lutar contra a privatização ou outro modelo que modifique o atual, engessado pela força corporativa. Mas a verdade é que da maneira que está não dá para continuar. A dimensão continental do país não justifica que brasilienses estejam restritos ao atendimento bancário apenas no polígono entre Planaltina e Samambaia.

O BRB afirma que saques podem ser efetuados em caixas eletrônicos de outras bandeiras, mas não há registro de alguém que tenho tido sucesso na operação lá em Porto Velho, por exemplo. E mais, afirmam: o Estado não deve ser proprietário de empresas. Esse modelo protecionista é inspiração das ditaduras. Será que Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina estão errados?

Resumo: se Leany, intempestiva, quer vender a carteira da folha de salários, que venda as mesas e cadeiras também. Ou Rollemberg está pensando em pedalar como Dilma, utilizando o Banco do Distrito Federal, ops, de Brasília? Os movimentos do próprio governo criam a sensação de que o BRB, que pode ser uma instituição ainda mais forte em termos regionais, é uma esquisitice. Mas não é. Ainda…

Kleber Ferriche

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