Ditadura legislativa
Legado de Bolsonaro, Hugo Motta merece o Oscar de pau mandado
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A primeira e a última imagem de um homem público são as que ficam para a história. Para o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), ambas são pavorosas. Nenhuma surpresa para um parlamentar cujo histórico prático e teórico sempre foi de coadjuvante. Às vezes, até de menino de recado, do tipo carregador de malas. Foi assim com Arthur Lira (PP-AL), seu criador, com Jair Bolsonaro, seu padrasto político, e tem sido assim com todos aqueles que o fazem lembrar do ex-presidente presidiário.
Menos zero à direita na articulação, zero ao centro no comando da Câmara, meio na ponderação, dois mil na bajulação ao clã pelo qual atinge orgasmos múltiplos e cinco mil na subserviência ao bolsonarismo. Tirando os nove fora, sobra coisa alguma na soma do perfil do perfumadinho (?), mas insossamente dissimulado Hugo Motta. Nada de anormal para um menino provavelmente criado com Danoninho e papinha de frutas. Tudo isso define bem sua posição parasitária como chefe de uma das casas do Legislativo federal.
O Brasil inteiro assistiu à vergonhosa sessão de terça-feira (09), quando a Câmara aprovou a tal da dosimetria, nome pomposo para uma das maiores safadezas do Congresso nos últimos anos: aliviar as penas de terroristas já condenados pelo Supremo Tribunal Federal. As chances de o Senado ratificar a marmota dos deputados são mínimas. Caso isso ocorra, o presidente vetará e, derrubados os vetos, o STF certamente o levará ao vaso sanitário, local onde são depositadas as cagadas em série da Câmara dominada pelo Centrão.
Como diz um amigo dos anais jurídicos, o presidente da Câmara parece ter sido contratado pelo clã Bolsonaro para implantar uma ditadura legislativa. A ordem recebida de cima é óbvia: se o Judiciário usa a lei para condenar um parlamentar aliado, Hugo Motta entra em cena, convoca os líderes golpistas e rapidamente muda a lei. Se alguém reclamar em plenário, ele obriga a Polícia Legislativa a baixar o pau. Como deve estar difícil de achar, não o dele, é claro. Com cara de pastel de pera, Motta não está nem aí para o Brasil. Além de pagar para ver, o sonoro palavrão que ele silenciosamente dirige à população é com PH. Mordam-se os verdadeiros patriotas.
Como um desses (patriotas), acho que o presidente Lula deveria radicalizar. O que adianta distribuir ministérios para partidos que, na hora do vamos ver, votam contra? Ou seja, sem dó e nem piedade, mantém os cargos, mas não livram o orifício rugoso do povo. Mande todos para a casa do cacho e os substitua por aqueles que dão a cara a tapa. Ainda sobre o fosco Hugo Motta, triste afirmar, mas a Paraíba já produziu deputados brilhantes, com destaque para Wilson Braga, Vital do Rêgo, Marcondes Gadelha, Cássio Cunha Lima, Efraim de Moraes e Gilvan Freire. Brilhantes, firmes, sérios e democratas, adjetivos que Motta desconhece.
Parte do legado de Jair Bolsonaro, o corporativista e obtuso Hugo Motta é uma criatura que, fora do seio bolsonarista, não é chamada sequer para disputa de cuspe à distância. Às vezes, sobra uma vaguinha na porrinha destinada a arrecadar fundos para ajudar nas férias de Eduardo Bolsonaro e de Alexandre Ramagem nos Estados Unidos. Não posso encerrar esta narrativa sem citar o maior exemplo do espírito de corpo do paraibano. Na terça-feira, ele ordenou a retirada do colega Glauber Braga aos pescoções. O crime de Glauber foi se sentar por uma hora na cadeira da presidência. Recentemente, deputados bolsonaristas fizeram a mesma coisa, por muito mais tempo, e nenhum deles apanhou como o parlamentar do PSOL. É ou não é um pau mandado? Merece o Oscar da categoria.
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras
