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Ratoeira armada

Lei será aplicada contra desvarios de bolsonaristas

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

De forma desavisada, destrambelhada, rocambolesca e absolutamente desnecessária, resolvi dar uma esticada ao QG do Exército. Não foi bem um passeio, pois, apesar do ócio remunerado, ainda tenho coisas muito mais interessantes por fazer. A verdade é que, depois de oito dias preso em decorrência daquela “gripezinha” sem vergonha inventada por aquele presidente despreparado, indeciso e sem nexo, senti vontade de respirar ar puro sem pressa. Foi esta a razão para acrescer à minha caminhada semestral mais um quilômetro e meio. É esta a distância que separa minha humilde residência do que os novos loucos chamam de lar. Trata-se do entorno do antes território vigiado dia e noite e prioritariamente frequentado pelo pessoal de coturno de oito furos e obviamente lustrado duas ou três vezes por dia.

Diferente do espaço esverdeado, limpo de duas em duas horas pelos recrutas e onde o sol bate enviesado desde janeiro de 2019, o local está embaraçadamente (ou não) ocupado por dois movimentos novíssimos e separados por uma ruela transversal à extensa avenida verde oliva. Bancados pelos enviados de Deus acima de tudo e de todos, ambos se denominam patriotas e defendem a mesma causa: derrubar o inderrubável, questionar o inquestionável e alterar o inalterável. Fácil, não fosse a luta contra o Diabo de barba, de voz rouca e que, embora azarado por Judas e Pôncio Pilatos, se associou a 60,3 milhões de almas bondosas e promete levar democratas e tiranos ao paraíso. Eu embarquei nessa sem medo e sem sustos.

Na caminhada matinal – a última foi no inverno imediatamente após a pandemia – sem querer me deparei com as lideranças dos movimentos. No melhor estilo MST, eles atendem pelas supostas siglas PSN e PSR, que vêm a ser Patriotas Sem Noção e Patriotas Sem Rumo. Não sei quem os batizou, mas certamente quem o fez sabia onde eles iriam chegar. Obviamente que não me interessei pela mesmice da conversa das lideranças, mas bastou uma passada d’olhos para descobrir que, ainda que lutem pela mesma escada rumo ao nada, o que os difere é a indumentária da rapaziada. Os integrantes do PSN se amarram na Bandeira Nacional com o nó para direita, enquanto o PSR prefere atrás. Parece que eles não toleram o lado esquerdo e detestam a frente.

Coisas de quem não sabe o que é bom. Talvez não tenham experimentado quando meninos. Deixa pra lá. A curiosidade é que, claramente identificados como representantes da elite, isto é aqueles que não pagam devidamente seus impostos, esse povo vive nos “acampamentos” como zumbis em busca do miolo de pão que os financiadores deixam de vez em quando. O de vez em quando é desde que o xerife Xandão decidiu asfixiar os cofres dos mandantes. Antes havia fartura e até grupos de pagode para animar as noites frias e chuvosas das ratazanas do golpismo. O rótulo saiu sem querer e é imerecido, porque os pobres dos ratos vivem no esgoto, mas são mais – muito mais – inteligentes.

Por exemplo, é ali que vive – ou vivia – o terrorista preso semana passada e um tal adevogado (a grafia é esta mesmo) de porta de manicômio. Certamente formado por correspondência ou, quem sabe, pelos recortes da antiga revista de fotonovelas Sétimo Céu, o referido causídico acha que, como ele, o Judiciário não tem o que fazer. Sem representatividade e responsável por pichações extremas, estapafúrdias, estrambólicas e estrogonóficas, o deplomado (assim mesmo) em Dereito (idem) “recorreu” ao Tribunal Superior Eleitoral contra a diplomação de Sir Lula da Silva, sob a alegação de que o líder petista “praticou estelionato eleitoral mediante o uso de droga”. É claro que a petição não chegou nem nas gavetas. Foi devidamente arquivada no contêiner dedicado às causas impossíveis. O problema é que há loucos por toda parte liberando espaço para as doidices dos enlouquecidamente desvairados. Contra estes não há argumentos. Só a lei.

Talvez ainda pague por isso, mas é uma oportunidade ímpar de mostrar aos brasileiros sadios como estamos todos a um passo da loucura. Futuro ministro da Justiça, o ex-governador e senador eleito Flávio Dino jura de pés juntos que teremos paz na posse de Luiz Inácio, daqui a cinco dias. Tomara! De qualquer maneira, é bom ele e Lula colocarem as barbas de molho e as forças de segurança de prontidão. Além do adevogado de garganta profunda, o PSN, o PSR e os aprendizes de terroristas têm pouca coisa – ou nada – a perder nessa loucura chamada Brasil. Portanto, como os ratos sem líder podem mostrar o rabo, é melhor deixar a ratoeira armada. Quanto ao mito, vale lembrar que hoje ele é pau, é pedra, é o resto de um toco, é o fim do caminho, é um cabra sozinho. Pior é a deputada Carla Zambeli, que agora, além do protetor, perdeu a arma e a culatra. Sintetizando a síntese, a loucura tem limites e contra ela há Xandão e a lei, principalmente a de causa e efeito.

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