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Boca fechada

Lembrança de Amelinha surge ao vivo sem voz de Elba

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Autor/Imagem:
Arimathéia Martins - Foto Reprodução

Brasília me consome! Toda vez que preciso vir para cá, já sei que vou sofrer com a secura, mesmo em tempos de chuva. O nariz sangra, os lábios precisam de boa dose de manteiga de cacau, os olhos precisam de colírio e a pele fica seca que nem a de um calango. Mas os amigos valem tamanho sacrifício e, por isso, procuro curtir cada instante como único.

Uma coisa famosa e complicada por aqui são as tais tesourinhas. Uma série de pequenos viadutos espalhados ao longo dos Eixos Sul e Norte. Até que não apanho muito, mas, quando chove, é aquele transtorno, pois a água fica acumulada em determinados pontos e não há carro que consiga passar, a não ser se você for o Speed Race e estiver pilotando o Mach 5.

Mas deixemos as águas de março pro Tom Jobim. Hoje quero falar de algo que me causou espanto logo após me despedir do meu grande amigo Helder, la na na UnB. Peguei meu carro e fui em direção à SQN 309 e, quando estava próximo à tesourinha, avistei uma faixa que me chamou a atenção. Em letras garrafais, lá estava escrito: BRASÍLIA GOZA EM SILÊNCIO. Se fosse eu o autor, tacava três pontos de exclamação para causar mais impacto ainda.

Em vez de me causar espanto, comecei a refletir sobre tal frase. Logo me atentei que o Plano Piloto, que é a parte do Distrito Federal em formato de avião, possui algo em torno de 230 mil habitantes, ou seja, é praticamente uma Copacabana, bairro até de dimensões modestas do Rio de Janeiro.

Além disso, as outras Regiões Administrativas possuem populações semelhantes, com algumas distorções para cima e outras para baixo, mas a maior parte é separada por quilômetros de distância. Resumindo: o DF é um conjunto de pequenas e médias cidades, tão comuns pelo interior do Brasil. Seria o povo daqui reprimido sexualmente?

Acabei parando em um restaurante. Nem senti direito o gosto da comida, que, certamente estava deliciosa. O problema é que comecei a confabular teses sobre o que é o candango, até que me deparei com uma discussão na mesa ao lado.

— Ah, isso acontece lá na sua terra. Aqui é diferente.

— Que mania goiano tem de se achar melhor que todo mundo.

— Num sou goiano, não. Sou brasiliense!

— O DF é todo cercado de Goiás. Tu é goiano do DF.

Enquanto os outros componentes gargalhavam, o rapaz de Brasília fechou a cara. Nem sei como essa contenda terminou, pois a comida no meu prato havia acabado, e eu precisava ir embora. Paguei a conta e caminhei até meu carro.

Minha mente, agora mais embaralhada com aquela história de goiano do DF, não parava de tentar entender as pessoas daqui. Será que goiano goza em silêncio? Na certa, a tal frase sobre Brasília deve ter sido apenas algo para chamar a atenção.

Na dúvida, mandei a fotografia da faixa para Flavio Bonesso, amigo de um amigo comum, que é brasiliense.

Não demorou, ele me respondeu com uma pergunta: “Mas não pode nem gemer?”

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