Liberdade de ir e vir com as letras, formando palavras, provoca um clima de êxtase

Ainda bem que a crônica é gênero livre, um território onde tudo é permitido, inclusive não ter ideia do que escrever, embora tanta coisa esteja acontecendo no mundo ou no quintal de casa…

Ainda bem que um simples passeio na praça, um flagrante do cotidiano ou uma expressão da natureza, como o bem-te-vi cantando no galho da árvore, pode dar asas para o cronista sem inspiração…

Ainda bem que, como dizia Drummond, o cronista não passa de um rabiscador de letras, que não precisa entender de nada ao falar de tudo, vivendo num espaço livre para imaginação…

Ainda bem que, literatura ou jornalismo – ou mescla deles –, a crônica não proíbe nada, nem a falta de tema específico ou a dúvida sobre qual história contar.

Ainda bem que o cronista não tem – ou não deve ter – censores para lhe cortar palavras, reprimir ideias, proibir sentimentos ou até mesmo criticar a forma da sua escrita, pois tudo pode…

Ainda bem que a crônica permite contar um fato real ou fictício, com emoção ou humor, crítica ou reflexão, afeto ou raiva – ou tudo junto…

Ainda bem que o cronista pode ter de louco pelo menos um pouco, pode relatar fato que lhe diga respeito ou não, sem que ninguém perceba, embora deva sempre fidelidade e ética ao leitor…

Ainda bem que esse estilo não obriga a nada, nem forma, conteúdo, começo ou fim, apenas pequeno tamanho para que caiba no café da manhã ou no intervalo do almoço…

Ainda bem o cronista costuma ter generosos leitores, diria até pacientes, porque muitas vezes não se diz muito num texto, apenas se relata algo que veio à cabeça, às vezes sem pé nem cabeça…

Ainda bem que o papel – ou a tela do computador – geralmente aceita tudo, até o mais pobre texto de um aprendiz, como este que vos escreve humildemente, esperando um dia aprender o ofício…

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