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Asa Sul

Ludmila e a descoberta através do espelho

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Irene Araújo

Ludmila, desde que fizera implacável acordo do traseiro com o insensível pé do ex-namorado, andava na maior fossa. A tristeza era tamanha, que a mulher queria porque queria sumir do mapa. E desapareceu por um tempo, mesmo diante das súpli-cas das amigas Iranilde e Cristal, que não suportavam vê-la definhando sob os lençóis nas noites solitárias de Brasília.

É verdade que, em certas ocasiões, somos compelidos a agir que nem monge budista, mas Ludmila não suportou o isolamento além de um final de semana. Para ser mais exato, quando as estrelas já começaram a dar as caras no sábado, a mulher constatou que não queria se desapegar do desejo que sentia. E, talvez por impulso, começou a escrever algumas linhas sobre o próprio reflexo no amplo espelho do quarto.

Encantada pela própria beleza, despiu-se antes de prosseguir os versos, que se prolongaram por estrofes incertas. Nunca desconfiara que fosse poetisa, talvez porque jamais tivesse experimentado. Mas gostou. Ah, gostou tanto, que a vontade de ganhar o mundo se apoderou do seu ser, como se precisasse dividir aquele sentimento com alguém.

Foi por impulso que mandou uma mensagem para Iranilde e Cristal:

                                                                 E aí, pronta pro crime?

As duas, que já estavam desacreditadas da pronta recuperação da amiga, res-ponderam de imediato.

                                                                           É pra já!

                                                                  Só se for pra ontem!

As três sem encontraram em concorrido bar na Asa Sul, ponto de possíveis paqueras. Entretanto, Ludmila, apesar das cantadas de alguns pretendentes, um ou dois até interessantes, preferiu se ater ao resultado da sua curta, mas profunda medita-ção. Curiosas, as colegas queriam saber o segredo de tamanha transformação.

— Sabe, fiz uma poesia sobre meu corpo, minhas curvas e minha liberdade.

— Ah, que legal! Agora temos uma poeta entre nós.

— Iranilde, não sei se sou poeta, mas expor tanta gostosura no papel me abriu os olhos para uma coisa.

— E o que foi?

— Quando estiver sozinha, sei me satisfazer muito bem.

……………………

Eduardo Martínez é autor do livro ’57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’

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