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Estragos externos

Lula acerta ao exigir mão dupla no acordo do Mercosul com a UE

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Autor/Imagem:
Arimathéa Martins - Foto de Arquivo/Fábio Rodrigues Pozzebom - ABr

O modismo da vez entre os oposicionistas é criticar as viagens internacionais de Luiz Inácio Lula da Silva. Para alguns, elas são excessivas; para outros, desnecessárias. Mesmo sem recibo para defender o presidente da República, entendo que as “visitas” aos mandatários do Primeiro Mundo são muito mais importantes do que imaginam os brasileiros da vã filosofia. Como a maioria dos filósofos de porta de cadeia ainda não alcançou – e dificilmente alcançará – a proposta externa do sucessor de Bolsonaro, melhor explicar didaticamente. Se não lembram, todas as viagens internacionais do presidente do golpe foram nocivas ao Brasil.

Por exemplo, se reunir com Donald Trump para aprender sobre golpes vai lhe custar a inelegibilidade. Encontrar Vladimir Putin para hipotecar apoio na invasão da Ucrânia talvez tenha lhe custado milhares de votos. E o que dizer das catastróficas participações nas assembleias das Nações Unidas, onde dizia que não havia desmatamento na Amazônia, mas desconhecia que a fumaça das queimadas tinha passaporte quase que totalmente preenchido. Acho que a mais natural de suas idas ao exterior tenha sido aquela em que, mostrando exatamente quem ele é, sentou-se no meio fio de uma das ruas de Nova York para comer pizza.

Foi quando o mundo descobriu o arremedo de presidente com o qual discutia questões de abrangência planetária. Pois bem, excessivas ou não, as viagens de Lula parecem servir para aparar arestas. Na verdade, para amenizar os estragos produzidos pelo pseudo político na diplomacia mundial. E esses estragos até hoje geram desconfortos para nossos diplomatas na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia. Obviamente que os “patriotas” pensam de forma contrárias, mas, não fosse Lula, o tratado de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia teria sido assinado sem qualquer salvaguarda para os países sul-americanos.

Provavelmente, formalizariam Buenos Aires como capital do Brasil e fariam de Valdemar Costa Neto o novo rei da província da Bragentina. Embora os arautos da ditadura insistam em canonizar monsenhor Bolsonaro, bastou o líder do petismo mostrar as esporas das botas, esticar os dedos e soltar o pau da mesa para que os europeus entendessem que o Brasil não é mais o vira-lata da fase bolsonarista. O país ainda está longe de se mostrar com um Fila, mas inegavelmente voltamos às principais mesas do cenário internacional.

Com todas as letras, Lula deixou claro que o acordo tem de ter mão dupla. Fazer exigências ambientais sem contrapartida está fora de cogitações. E o que se pede é muito pouco diante do poderio das grandes potências econômicas. O Brasil aceita o acordo, mas não admite ameaças a parceiros do continente e cobra soluções para as desigualdades entre europeus e sul-americanos.

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