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Os arrependidos

Lula acompanha, na moita, a fuga do bolsonarismo

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Autor/Imagem:
Arimathéia Martins - Foto de Arquivo

A prisão de Bolsonaro não significa apenas o ocaso de um mito inventado nos bastidores do golpismo enraizado na mente doentia dos conservadores. Na prática, é o fim de um estágio fascista que se desenhava duradouro. Embora os patriotas ainda sonhem com a ressurreição do Messias, o Jair, durou pouco porque a convenção da maioria esmagadora do povo brasileiro não permite mais ditadores, enganadores e aproveitadores da ingenuidade do eleitorado que permanece amordaçado.

Foram quatro anos de pura devassidão política, de negacionismo até mesmo da pátria. Apesar da derrocada pessoal de Bolsonaro, do desnorteamento da família e da falta de direção do bando bolsonarista, Lula da Silva preferiu ser estadista e governar como se a seita quase em extinção nunca tivesse existido. Melhor assim. Chutar cachorro morto e se aproveitar do desatino de moribundos é como se o presidente quisesse comer na mesma pocilga. E ele não quer.

Luiz Inácio optou por apontar a metralhadora para o Brasil assustadoramente criado por um grupo ideológico que sabidamente não se sustentaria mais do que um inverno. Nadando de braçada na fuleragem montada pelos patriotas e, principalmente, pela filharada sem nexo, Lula deveria propor ao povo o que muitos brasileiros já pensaram em fazer: ligar para o papa Leão XIV pedindo reza para aqueles que insistem em pedir oração para o presidiário Jair Bolsonaro.

Embora alguns se mantenham atentos aos extraterrestres e não assumam a debandada, boa parte dos deputados e senadores da dita bancada bolsonarista começa a pular do barco à deriva. Evangélico e um dos mais ferrenhos defensores da candidatura do ex-presidente, o deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) anunciou publicamente seu arrependimento por ter tratado Bolsonaro como “mito”. A correligionários e irmãos da igreja Assembleia de Deus Missão, ele informou que tem preferido “andar sozinho do que mal acompanhado”.

Em seu mea culpa, Otoni disse estar envergonhado. “Me arrependo quando gritei mito onde só deveria cultuar o Senhor. Eu não parecia um pastor. Parecia um louco, que acha que tudo se resolve na bala e no tiro”. É claro que, ao alertar os “irmãos”, o parlamentar carioca está tentando prioritariamente tirar o dele da reta. No ano que vem tem eleição e ele sabe que colar em quem negou a própria pátria pode ser o fim de sua história política. Ao mesmo tempo em que se distancia do bolsonarismo, o deputado emedebista aponta os dez dedos das mãos na direção do Palácio do Planalto.

Otoni de Paula não é o único. Numerosos deputados se desculparam por terem votado a favor da PEC da Blindagem. Principal herdeiro do apoio dos congressistas arrependidos e dos votos dos eleitores que se sentiram enganados, Lula está caladinho como menino mijado. Na moita, o líder petista aguarda apenas a chegada dos náufragos do bolsonarismo em terra firme. Enquanto isso não ocorre, ele deu um salto para o futuro ao adiantar que as eleições de 2026 serão mais limpas do que as de 2022 e as de 2018. O recado foi dado. Precisa dizer mais alguma coisa?

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