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Bons velhos tempos

Lula encarna Getúlio Vargas e parte para a industrialização

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Autor/Imagem:
César Fonseca/Via Pátria Latina - Foto de Arquivo

O governo vai investir nos próximos quatro anos R$ 300 bilhões para ativar a industrialização, enquanto somente em 2023/24 colocará no agronegócio R$ 435 bilhões, uma vantagem anual de 20% ao setor primário exportador que se beneficia da isenção de impostos (ICMS) para exportação, graças à Lei Kandir, criada, em 1996, na Era FHC, sob comando do Consenso de Washington.

Haverá, portanto, nesse período de definição de Lula para encarar quarto mandato em 2026, um mix de investimento industrial e agroexportador, porque se evidencia ser impossível que ambos os setores caminhem separados como estratégia de alavancagem da industrialização, no cenário em que China ganha vantagem espetacular sobre todos os países industrializados.

A concepção varguista tende a ganhar espaço crescente, como ficaram claras declarações do presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, ao longo da última semana, e na participação dele, neste domingo, no novo BrasilPod+, na TV 247, que foi ao ar essa noite às 19 horas.

Mercadante bate na tecla de que de 1930 a 1980, ou seja, Era Vargas, o Brasil cresceu mais que China e Coreia do Sul juntas, perdendo espaço a partir da Era FHC, essencialmente, entreguista, dominada pelo Consenso de Washington, nos anos 1980 em diante.

Foram criados por Vargas, nesse período histórico que o Brasil assumiu sua maioridade nacional, com a Revolução de 1930, a Cia Vale do Rio Doce, a Petrobrás, o BNDES, o qual Mercante, na Era Lula, preside, e uma dezenas de instituições estatais, objetivando instrumentalização da economia nacional, para agir, agressivamente, no mercado mundial.

A ideia varguista não é segredo
Getúlio via as grandes empresas estatais, assim como viu, também, o general Geisel, como armas para alavancar mercado externo, tal como metralhadoras, na guerra comercial, para derrotar concorrentes, como relata José Augusto Ribeiro, na trilogia, “A Era Vargas”, Editora Folha Dirigida.

A China, como diz o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, vinha, na era varguista, ao Brasil, para aprender.
Levava daqui os conhecimentos para instrumentalizar o setor industrial chinês com a lição de Vargas.
Hoje, a gigantesca indústria chinesa domina a cena internacional e coloca os impérios do ocidente, outrora poderosos, como o inglês, alemão, francês e, igualmente, o americano, em segundo plano.

PC e banco público
Os chineses alcançaram capacidade competitiva irresistível, comandada pelo regime comunista de orientação capitalista, mas capitaneado pela não pela visão privada, mas estatal, a partir de bancos públicos comerciais e de investimento lição que vem da Revolução de 1949, comandada por Mao Tse Tung.

São imbatíveis, porque no sistema monetário chinês, o governo emite moeda distribuída pelo banco estatal a juro baixo, tornando os concorrentes no comércio do dinheiro, praticamente, inexistentes.

Sem se submeter ao comando de Banco Central, à moda ocidental, que impõe regras restritivas aos demais bancos centrais do mundo capitalista, no Ocidente, tendo como premissa a hegemonia do dólar e a orientação centralizada de Washington para administrar macroeconomicamente o mundo capitalista, com visão privada e não pública, a China, ao contrário, corre em faixa própria, na frente.

Os chineses deixam para trás os concorrentes, porque o Partido Comunista, no poder, seguindo a lição de Marx, expressa no Manifesto Comunista de 1947/48, estatizou o crédito e faz com ele o que quiser, ou melhor, o que é melhor para a China, vale dizer, comprar e vender barato mediante juro estipulado não pelo mercado, mas pelo Estado.

Quem vai competir com o banco estatal chinês, que Xi Jinping, em “A governança da China”, volume I, diz ser o fornecedor de oxigênio gratuito para impulsionar o país nos cinco continentes?

Lenin, como Mao Tse Tung, seguido por Xi Jinping, considera a estatização bancária como fator número um da revolução soviética e chinesa, respectivamente, comandada pelo partido comunista.

O líder soviético flexibilizou a revolução para fazer concessões à Alemanha, no comando das potências centrais, em Brest-Litovsk, em 3 de março de 1918, justamente, para preservar a estatização dos bancos, sem a qual a revolução de 1917 iria aos ares frente às potências imperialistas etc.

Capitalismo perde espaço
A modalidade de bancos centrais, conduzida pelo império americano, guarda características de controle central do crédito, mas comandado pelos bancos privados.

Kennedy, em 1961, tentou colocar o tesouro para emitir dólar, no lugar do FED, e não conseguiu. Cogita-se que o seu assassinato está relacionado à disputa dele com os bancos privados, que são os responsáveis pela emissão de dólar, nos Estados Unidos, fator hegemônico do poder imperial.

Com ele é que Washington alavancou a industrialização americana, objetivando não o interesse público, como ocorreu com a revolução soviética e ocorre com a revolução chinesa, mas o interesse privado.

A busca do lucro privado é, ao fim e ao cabo, a responsável pela perda hegemônica da corrida industrial americana para a estratégia chinesa industrial, copiada não de Tio Sam, mas de Getúlio, criador do BNDES.

Deve ser lembrado que Vargas, na sequência da Revolução de 30, promoveu auditoria da dívida pública, cujas consequências foram barrar lucros superfaturados em mais de 40% do valor da dívida pública pelos bancos ingleses.
Feito isso, a economia varguista nacionalista alavancou crescimento médio sustentável de 7% do PIB.

Lula e Vargas
Lula, que elogiou Getúlio Vargas, semana passada, em discurso de relançamento da construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, assusta a elite política nacional, que apoiou Fernando Henrique Cardoso, cuja prioridade foi dar cabo da Era Vargas, a partir dos anos de 1980, sob orientação do Consenso de Washington.

A primeira providência do ex-presidente FHC, que o senador marxista Lauro Campos, do PT-DF, disse ser o primeiro anti-presidente do anti-estado nacional, foi vender, na bacia das almas, a Vale do Rio Doce, criada por Vargas.

O então líder trabalhista-nacionalista objetivava, com a Vale, mesma meta da Petrobrás: industrializar o Brasil, com transformação do minério de ferro em produtos siderúrgicos manufaturados a serem espalhados no mercado mundial a preços competitivos com alto valor agregado e geração de emprego de qualidade para construção de classe média forte.

FHC, com discurso explícito anti-varguista, acelerou exportações de minério, logo depois da privatização da empresa, aprovando a Lei Kandir, em 1996, por meio da qual renuncia às receitas de ICMS na exportação de bens primários e semielaborados, causa principal da desindustrialização regional.

Os governos estaduais, sem sua principal receita tributária, ficaram de pés e mãos amarrados, sem poder alavancar a industrialização, obrigados a se endividarem no mercado financeiro, com aval da União, para cobrir suas despesas fundamentais, jogando federalismo no abismo.

Novo jogo na Vale?
No momento que Mercadante reúne forças para colocar o BNDES a serviço da industrialização, tarefa para a qual a produção mineral é fundamental, a tentativa de Lula de retomar o comando da gestão da Vale, colocando para administrá-la o nacionalista Guido Mantega, é tributo que o presidente petista paga a Getúlio Vargas, pai do processo industrial brasileiro, lançando mão do banco público de investimento.

A próxima quarta-feira, pode ser ponto de virada neste capítulo histórico, em que se realizará mudança na administração da Vale, ameaçada pela financeirização corporativa introduzida pelo bolsonarismo fascista desmobilizador do patrimônio nacional.

Os financistas que dominam a Vale conspiram, com a ajuda da mídia conservadora antinacionalista, contra a estratégia lulista para manter o Brasil como colônia produtora de produtos primários e semi industrializados e gerador de empregos eternamente precarizados.

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