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Dono da lupa

Lula manda Padilha agir como médico e bombeiro do governo

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Autor/Imagem:
José Seabra - Diretor Editor/Foto Wilson Dias

Alexandre Padilha é médico, com doutorado em saúde coletiva. Agora faz um curso intensivo EAD de bombeiro. Além da atribuição de manter em alto nível as relações institucionais do novo governo, que vão desde dialogar com o agronegócio no mesmo tom com os sem-terra, ele terá uma missão supostamente mais espinhosa: aparar arestas, aplicar curativos e apagar incêndios nos curtos-circuitos que já surgem entre seus colegas da Esplanada dos Ministérios.

A orientação partiu do próprio Lula. Interlocutores do ministro confidenciam, porém, que a ele foi confiado outro trabalho árduo: riscar do mapa o famigerado governo cujo ex-presidente se autoexilou na Disney. Não haverá gabinete do ódio nem no Planalto, nem na Esplanada e muito menos em restaurantes onde autoridades costumam degustar uma taça de vinho e avaliar ações.

Padilha também será visto como um barbeiro que tem um pente fino nas mãos. Ou como Sherlock Holmes e sua lupa apelidada de telescópio, dada a capacidade de ver e ler detalhes imperceptíveis.

Lula decidiu sobrecarregar Padilha de trabalho por diferentes motivos. Dois são mais relevantes. A confiança e a amizade. A título de ilustração, basta lembrar que foi o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais o primeiro a despachar com o presidente logo após a posse. E que antes, ainda na transição, o médico da família palaciana (aqui entendido o primeiro escalão do governo) sugeriu ao futuro chefe a extinção da Funasa.

Padilha conhece a área da Saúde como a palma da mão. E a Funasa (que deixou de existir desde a última segunda-feira, 2) foi a porta de entrada do agora ministro no Governo Federal. Foi na metade da primeira década deste século, quando Lula assumiu a Presidência da República pela primeira vez. Trocou de cargo. Foi ser chefe de gabinete da Secretaria de Assuntos Federativos. Logo depois era o segundo em comando, responsável pelo mapeamento das demandas estaduais e municipais levadas ao Governo Federal por governadores, prefeitos, senadores, deputados e vereadores. Até que, com o currículo maior e mais experiente, virou ministro da própria Secretaria de Relações Institucionais.

Quando Dilma chegou ao Poder, sucedendo Lula ao término do segundo mandato, Padilha voltou à área da saúde, virando ministro da Pasta.

Amigos próximos atribuem a Padilha o apelido de Magno (ou Grande), como aquele outro histórico Alexandre. Ao ministro, Lula pediu que dialogasse até se, necessário, romper as cordas vocais. A ordem é conversar, seja com parlamentares e partidos políticos, seja com os demais entes federativos e a sociedade civil. Para isso ele terá sob seu guarda-chuva o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o “Conselhão”, que será reativado.

No entorno do Planalto, os comentários sugerem que ninguém melhor que Padilha para conduzir essa coordenação política, nem sempre pacífica, e com resquícios de um vício na relação promíscua da era bolsonarista. Sabe-se que o ministro é o petista mais querido e com relações suprapartidárias republicanas. O único, como admitem uns poucos dos seus supostos desafetos, capaz de superar as divergências e ampliar a base de sustentação do governo Lula no Congresso Nacional.

Considerado no Partido dos Trabalhadores um político pragmático, leal e sem raízes em nenhuma corrente macroeconômica, Padilha consegue dialogar desde os banqueiros até aos movimentos sociais mais segregados com o mesmo carinho e atenção.

Mas, como em um jardim de roseiras há espinhos, caberá a ele e à sua equipe reestabelecer um protocolo para recebimento das demandas políticas de forma saudável.

Voltam à cena, assim, o clínico geral, o bombeiro, o barbeiro, o detetive e um homem com coragem para tomar decisões. Se a lupa apontar, a borracha apagará nomeações de camaleões que outrora ameaçaram a democracia. Nenhum ficha-suja assumirá posições estratégicas no governo. Casos como de pessoas ligadas ao massacre de presos, ligação com milicianos e até mesmo lavajatistas perseguidores, não deverão mais passar despercebidos.

Padilha, avalizam quem o conhece, é o que se descreve acima. E isso vale para os colegas que ocupam gabinetes na Esplanada. Os nomes não vêm ao caso. Mas Dino, Múcio, Haddad, Lupi, Simone e Anielle precisam saber disso. Até porque, o primeiro escalão já está formado. Lula quer harmonia na equipe. O presidente aceita divergências ideológicas, mas não divisões em decisões de governo. Ao primeiro sinal de perigo, Padilha será acionado. E como médico, o ministro pacificador também sabe usar fórceps.

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