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Dor de cotovelo

Lula, na ONU, deixa Bolsonaro à beira de um ataque de nervos

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo/Ricardo Stuckert

No mundo plural e de antagônicos até na família, é muito fácil ser macho. Difícil é ser homem com H. Como dizem os pensadores, a diferença entre um e outro é simples. Enquanto o homem vê como sua maior virilidade a coragem e o pensamento, o macho, impotente de raciocínio, desce na ladeira de sua própria covardia. Resumindo, o homem fala, o sábio escuta e o tolo discute. Me perdoem os falsos moralistas, os imbrocháveis, os machões de algodão doce, os valentões de botequim e os que se acostumaram a definir o Brasil como uma nação de maricas.

Macho não é aquele usa a imunidade parlamentar para xingar adversários políticos, destilar ódio contra negros, pobres e gays, ofender a honra das mulheres que não aceitam sua corte, muito menos para zombar de moribundos diante da morte decorrente do negacionismo. Macho de carteirinha não precisa divulgar sua masculinidade, tampouco sua virilidade. Vivo fosse, meu avô Aristarco Pederneira certamente duvidaria desses que se sublimam.

Digo ainda que o verdadeiro homem não abandona sua pátria para, de longe, denegrir a imagem do próprio país. Onde quer que esteja, macho não é “machocho”. Ele faz acontecer. Contra tudo, contra todos e contra a máquina golpista, o viril varonil disputa e ganha no voto uma eleição presidencial que o mundo imaginava perdida. Macho não se esconde em embaixadas, não ameaça compatriotas, perde de cabeça erguida e não tenta permanecer no poder sob argumentos pífios, sórdidos e covardes.

Por fim, o homem com H enfrenta as adversidades de frente e de peito aberto e jamais evitar olhar nos olhos do poderoso “inimigo”, ainda que dentro de sua casa (a do inimigo). Foi o que fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da 80º. Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. No jargão popularesco, mas realista, Lula bateu na madeira e botou o pau na mesa. Não necessariamente o que estão pensando, mas falou grosso e enviou mensagens claras para os autocratas e contra as chantagens econômicas do guru norte-americano dos Bolsonaro.

O resultado é que, para quem esperava um aperto formal de mãos, o encontro Lula e Donald Trump na antessala do evento acabou em um abraço entusiasmado e com o aceno de uma reunião para os próximos dias. Como mandatário que, até essa segunda-feira (22), queria comer o fígado de Luiz Inácio com ketchup, o abraço e os elogios inicialmente devem ser avaliados como de tamanduá e de lobo mau. Até o tête-à-tête entre eles, tudo pode acontecer, inclusive tudo. Ou nada. Todavia, o gesto “carinhoso” deixou Jair Messias à beira de um ataque de nervos e Eduardo Bolsonaro até o tampo do Valdemar Costa Neto de mágoa com Trump. É a chamada dor de cotovelo.

Pelo sim, pelo não, ainda que o presidente republicano se recuse a aceitar o L em 2026, a “ótima química” é o mais evidente sinal de que o gracejo de Trump para Lula não foi planejado, isto é, não pode ser considerado delirium tremens de um presidente que, ao contrário do que diz, depende tanto do Brasil quanto o Brasil dele. Como estamos empatados, o desempate pode começar com a primeira citação positiva de Trump ao presidente Lula. Enquanto esperamos os próximos capítulos desse novo enredo Brasil e EUA, podemos afirmar que os elogios de Tio Sam a um “comunista” é um duro golpe no bolsonarismo. De minha janela, tento imaginar a cara de banha derretida dos bolsonaristas da Câmara, do Senado e da casa do cacho. E não é para menos. Passaram tantos anos lambendo as botas, o taco e as bolas de golpe de Donald Trump para ouvir o que ouviram. Chupem, engulam ou tentem abraçar a causa. Tarde demais, bananinha do hamburguer!

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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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