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Picanha ao ponto

Lula vira o jogo com diplomacia e leva Trump a recuar no tarifaço

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Autor/Imagem:
Dora Andrade - Foto de Arquivo

Quando a Casa Branca anunciou, nesta quinta-feira (20), a retirada das tarifas adicionais sobre produtos brasileiros, não foi apenas uma boa notícia para exportadores de carne, café ou frutas tropicais. Foi, sobretudo, a comprovação de que a diplomacia brasileira — tantas vezes subestimada — segue viva, lúcida e estratégica. E de que Luiz Inácio Lula da Silva soube, mais uma vez, conduzir uma crise internacional sem estardalhaço, sem bravatas e sem ceder aos impulsos imediatistas que costumam cercar conflitos comerciais.

A decisão de Donald Trump de derrubar a sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros não saiu do nada. Ela foi construída no silêncio das conversas diplomáticas, na mão estendida ao diálogo e na capacidade de convencer a maior potência do planeta de que a persistência do tarifaço traria prejuízo para os dois lados.

Desde o início, o governo brasileiro evitou transformar a disputa comercial em espetáculo político. Em vez de ameaças ou retaliações apressadas — que até poderiam agradar a plateias domésticas — Lula preferiu o caminho da negociação firme e respeitosa.

Ao enfatizar que tarifas altas prejudicavam tanto produtores brasileiros quanto consumidores americanos, o presidente transmitiu uma mensagem simples e inquestionável: não há vencedores em guerra comercial. Os EUA encarecem insumos e alimentos; o Brasil perde acesso privilegiado a um mercado vital. Recuar, portanto, era sensato para Washington. E Lula fez questão de mostrar isso com clareza.

A retirada das tarifas representa um alívio importante para setores estratégicos da economia nacional. Carne, café, banana, tomate e outros produtos do agronegócio recuperam competitividade nos Estados Unidos, abrindo espaço para retomada de volumes exportados e contratos que estavam ameaçados.

Mais do que isso, pois a medida é retroativa, valendo para produtos que entraram nos EUA desde 13 de novembro. Ou seja, exportadores brasileiros não perderão receita acumulada durante o período em que a taxação ainda vigorava. É uma vitória concreta.

Ao afirmar que “houve progresso inicial no andamento das negociações com o governo brasileiro”, Trump fez algo raro ao reconhecer o mérito do interlocutor. O gesto reforça a eficácia da estratégia brasileira de paciência, firmeza e diálogo, especialmente num cenário em que a política comercial dos EUA costuma ser marcada por decisões abruptas e uso das tarifas como instrumento de pressão.

Não é trivial fazer o governo norte-americano recuar. E Lula conseguiu isso sem desgaste diplomático e sem abrir mão da defesa dos interesses nacionais.

Embora uma parcela das tarifas ainda permaneça, o passo dado hoje é significativo e abre espaço para avanços ainda maiores. O Brasil entra nessa nova etapa fortalecido: mostrou disposição para negociar, obteve concessões reais, e conseguiu demonstrar que o protecionismo americano também é prejudicial à economia dos EUA.

Se nas próximas semanas vier um acordo mais amplo, será consequência direta dessa virada diplomática.

O episódio é, no fundo, um lembrete de que política externa se faz com cabeça fria e interlocução madura. Lula demonstrou que é possível defender os interesses brasileiros sem romper pontes, sem teatralização e sem transformar adversidades comerciais em crises diplomáticas artificiais.

O resultado é um Brasil que fala, que negocia e que é ouvido. E, sobretudo, um país que conseguiu converter uma ameaça real em uma vitória tangível — mostrando que, quando atua com serenidade e inteligência, não há tarifa que permaneça de pé por muito tempo.

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Dora Andrade é Editora de Economia de Notibras

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