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Emprego e renda

Maior desafio pós-Covid será aquecer economia

Publicado

Autor/Imagem:
Sérgio Mansilha

Dois fatores principais distinguem as consequências econômicas da Covid-19 das crises anteriores. Um é o declínio catastrófico no emprego em tão pouco espaço de tempo. A outra é a transformação digital incrivelmente rápida que mudou a maneira como a sociedade trabalha e consome.

Pessoal, nesse novo cenário digital, além de uma ampla mudança para o trabalho doméstico, o ressurgimento do comércio eletrônico e até a prestação remota de serviços de saúde tornaram-se fatos da vida cotidiana. De fato, o crédito pela digitalização rápida da maioria das empresas não pertence aos líderes empresariais, mas à chegada da Covid-19.

Qualquer saída do bloqueio atual provavelmente reverterá parte dessa transformação digital, mas não toda. E a escala sem precedentes do que aconteceu terá um impacto significativo nos níveis de emprego por um longo tempo, mesmo quando as economias se recuperarem.

O fraco crescimento do emprego tem sido uma característica fundamental das recuperações econômicas anteriores no mundo, um fenômeno que os economistas chamam de recuperação sem emprego. Nos EUA, após a crise financeira global de 2008, foram necessários mais de seis anos para o emprego voltar ao seu pico pré-recessão. As recessões de 1991 (após a Guerra do Golfo) e 2001 (a bolha das pontocom) também registraram altos níveis de desemprego duradouros, com imensas consequências econômicas e sociais.

Na Europa, o efeito sobre o emprego após 2008 foi ainda mais dramático. A UE levou 11 anos para retornar à sua taxa de desemprego pré-crise.

Simplificando, essas recuperações sem emprego foram causadas por uma mistura de globalização e digitalização. Essencialmente, os trabalhos de manufatura acabam passando de economias avançadas para destinos que oferecem mão de obra barata, enquanto os avanços na tecnologia substituem a mão-de-obra.

A vasta escala da transformação digital causada pela Covid-19 provavelmente tornará qualquer recuperação ainda mais difícil do que no passado.

Isso deixa os nossos eloquentes políticos aqui no Brasil com a difícil tarefa de formular políticas que neutralizem esses efeitos desfavoráveis. Eles precisarão apresentar um plano que reverta a contração da atividade econômica, reduz a desigualdade de renda (ou pelo menos não a agrava) e minimiza o impacto na dívida pública; essa oportunidade está aparecendo agora com a discussão da reforma tributária que entrará em pauta.

Me lembro de quando cursava economia, faz tempo, olhei uma pesquisa da época que mostrava que existem trocas entre 3(três) objetivos:

Políticas que estimulam a economia e reduzem a dívida do governo geralmente beneficiam os empresários às custas (relativas) dos trabalhadores. Mas políticas que ajudam os mais pobres da sociedade têm menos impacto na dívida pública, pois essas famílias contribuem com menos impostos.

Também descobri que gastos mais altos e impostos mais baixos são particularmente eficazes em crises econômicas. Isso ocorre porque as famílias tendem a gastar mais, ajudando a economia a se recuperar mais rapidamente.

E por último, quando as taxas de juros atingem níveis baixos, existe um potencial para o que era chamado de almoços livres fiscais, ou seja, os cortes de impostos podem aumentar a renda a tal ponto que a receita tributária adicional gerada mais do que paga por qualquer aumento inicial nas despesas do governo; será isso possível em nosso Brasil.

Portanto, a política que visa minimizar o potencial de recuperação do desemprego deve procurar aumentar a produção na economia e aumentar os retornos marginais da contratação de mão-de-obra.

Desde então, algumas pequenas mudanças foram feitas pelos nossos governantes, mas essas ineficiências e complexidades persistem. Enfim, se já houve um bom momento para iniciar reformas verdadeiramente ousadas, é agora.

Pense nisso.

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