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Casuarina

Mais 100, O Disco, tem repertório para ouvinte se deleitar

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Autor/Imagem:
Julio Maria

O Casuarina fez um dos discos mais bem avaliados do ano até aqui. O Prêmio da Música Brasileira o considerou o melhor grupo de samba e aquilo que começou na Lapa, em 2001, para sair por países como Angola, Bélgica, Canadá, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Inglaterra, Israel, Malásia, Noruega, Portugal, Rússia e Suécia passou por transformações e ganhou corpo. Mais 100, o disco, acaba de ser lançado.

Sem mais João Cavalcanti, que deixou o trabalho para sair em carreira solo, o grupo tem hoje Gabriel Azevedo (pandeiro e voz), Daniel Montes (violão de 7 cordas), João Fernando (bandolim, violão tenor) e Rafael Freire (cavaquinho, banjo). Mais 100 traz um samba de partido alto como novas gerações não se especializaram a desenvolver.

Seu repertório, com participações de Martinho da Vila em Tempo Bom na Maré, Leci Brandão em Herança de Partideiro, Criolo em Quero Mais um Samba e Geraldo Azevedo em Embira, atualiza a linguagem criada na quadra da escola de samba Cacique de Ramos, no subúrbio do Rio, por homens que seriam a base do Fundo de Quintal.

Gabriel Azevedo fala primeiro sobre como foi fazer um disco sem Cavalcanti depois de sete álbuns. “O processo de selecionar as músicas enviadas pelos compositores foi muito produtivo, atingiu o objetivo de mostrar um panorama do que está sendo feito hoje no universo do samba, além de ter servido para nos unir ainda mais em torno de um projeto que acreditamos e no qual mergulhamos de cabeça.”

O que, afinal, acontece com a nova geração de partideiros da Lapa, que não conseguem reconhecimento nacional? “Acredito que o motivo seja o pouco espaço que, infelizmente, o mercado da música tem dado para o samba. Talentos novos não faltam, tanto compondo quanto interpretando, isso pudemos constatar.” Ele diz que um dos reflexos das dimensões conseguidas com o disco é a viabilidade de uma nova cena. “Existe uma geração talentosa, sedenta por escoar essa produção, e esperamos que a gente consiga jogar luz nessa rapaziada. Esse foi o objetivo do disco: gritar para quem queira ouvir que o samba está vivo, forte, e cheio de força, principalmente entre a juventude que o reverencia e respeita.”

O fato de ser um grupo sem negros, algo raro entre partideiros, puxa o tema Fabiana Cozza, cantora que desistiu de interpretar Dona Ivone Lara em um musical depois de protestos de grupos que pediram por sua saída em nome de uma representatividade racial feita por uma atriz ou cantora de pele mais escura. “Essa situação vivida pela Fabiana é mais um exemplo de intolerância, desses tempos extremos que temos vivido.”

Ao mesmo tempo, diz que é preciso entender o que vem do outro lado. “É um assunto de certa maneira recorrente, e que também nos atingiu no início da nossa carreira. Mas é sempre bom ter em mente que o samba é um gênero de resistência, muito ligado à luta dos negros por estabelecimento e reconhecimento de sua cultura, e devemos ter muito respeito e levar isso em consideração quando escolhemos o samba como nosso ganha pão.” Ele termina, voltando à Fabiana: “No caso dela, foi também uma grande burrice. Não conheço cantora no Brasil mais preparada, em todos os sentidos, para representar o legado de um gênio da nossa cultura como Dona Ivone.”

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