O caos das privatizações
Mais um apagão na cidade de São Paulo por causa da incompetência da ENEL
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Nesta semana, São Paulo experimentou o caos trazido por um ciclone extratropical. Foi caos no trânsito, caos nos aeroportos e, sobretudo, caos provocado pela falta de energia elétrica. A cidade mais rica do país parou, às escuras, revelando uma fragilidade que já não pode mais ser tratada como exceção.
Um ciclone é, sim, um evento climático extremo, mas está longe de ser um fenômeno imprevisto. A mudança climática está bem diante dos nossos olhos, escancarada no cotidiano, e episódios como esse tendem a se tornar cada vez mais frequentes e intensos. Justamente por isso, empresas que prestam serviços essenciais, como as concessionárias de energia elétrica, deveriam estar preparadas para lidar com situações desse tipo.
Mas a Enel, concessionária responsável pela distribuição de energia em São Paulo, claramente não estava. O resultado foi dramático: milhões de paulistanos ficaram no escuro por horas, em alguns casos por dias, sem respostas claras, sem previsão confiável e sem o mínimo de respeito ao cidadão que paga caro por um serviço que deveria ser contínuo e seguro.
Diante da gravidade da situação, o prefeito Ricardo Nunes pediu intervenção federal. Concordo que o governo federal, hoje sob a presidência de Lula, deve sim intervir, fiscalizar e cobrar providências rigorosas. No entanto, é preciso lembrar, e não fingir esquecimento conveniente, que a privatização da Eletropaulo não caiu do céu. Ela vem sendo construída há anos, culminando na concessão à Enel em 2018, durante a gestão do governo estadual, com amplo apoio de uma lógica privatista que prometia eficiência, modernização e qualidade no serviço.
O que se viu, na prática, foi outra coisa. Há anos a Enel vem lucrando no estado de São Paulo, inclusive à custa da redução da manutenção preventiva e do sucateamento da rede. O ciclone não criou o problema; ele apenas expôs, de forma cruel, um sistema já fragilizado por escolhas empresariais e políticas que priorizaram o lucro em detrimento do interesse público.
Por isso, é justo que a Enel arque também com os prejuízos causados à população. Não se trata apenas de reparar danos materiais, mas de assumir responsabilidades. Serviços essenciais não podem funcionar sob a lógica do mínimo investimento e do máximo lucro. Quando a conta chega, ela não pode ser empurrada para o cidadão, que já paga caro demais por um serviço que falhou quando mais precisava dele.