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Cobertura palaciana

Manda quem pode obedece quem tem juízo

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José Escarlate

Volta a Brasília e à velha rotina. Embaixada Americana e Palácio do Planalto. Só que agora teríamos o que contar. Os convites ao presidente para visitar cidades crescia cada vez mais. Eu tinha sempre uma mala arrumada. Uma para viagens ao Sul, com agasalhos, e outro para idas ao Norte e Nordeste.

E havia muita cidade do interior deste país pedindo a Deus que Geisel fosse até lá. Só assim os buracos das ruas seriam cobertos por novo recapeamento, se bem que uma fina camada de asfalto, ou colocação de paralelepípedos. Para o evento, a cidadezinha era varrida, lavada e depois enfeitada.

Toda quinta-feira eu viajava. Quando encontrava vôo, voltava aos sábados. Rodei o Brasil inteiro, vendo gente, vendo povo. O presidente queria sair da frieza dos gabinetes e dos documentos. Queria ver tudo “in loco”. Geisel sabia que havia problemas e choques entre seus auxiliares.

Quando isso ocorria, eles olhavam logo para o “chiqueirinho” da imprensa – local restrito aos jornalistas – para ver se eles haviam percebido. Os repórteres viam, fingiam que não haviam visto, e no dia seguinte tudo estava nos jornais, tornando-se tema da reunião diária das 9 da matina. Havia, inclusive, puxões de orelhas.

Nós sentíamos que havia um clima hostil, de animosidade entre o chefe da segurança e o secretário de imprensa. Mais especificamente, entre Humberto e o coronel Pedroso. Humberto, cioso da sua intimidade com o presidente. E Pedroso, por sua vez, zelava para que tudo corresse bem na sua área, para gozar da confiança de Geisel.

Em uma cidade na Paraíba os dois já haviam se estranhado. Depois, numa visita de Geisel a uma cidade goiana, houve outro choque entre os dois, que por pouco não termina em desforço físico. Tudo porque a segurança havia impedido o acesso de uma repórter da TV Globo que estava sem credencial.

Humberto pulou nas tamancas e liberou a repórter. Pedroso vetou. E cada um passou a falar mais grosso. Até que Humberto falou mais alto e disse a Pedroso que estava tudo bem. Só que ele, Pedroso, deveria explicar ao presidente a razão de ele, Humberto, ter pedido demissão. E acrescentou: “Também vai ter que explicar o por quê de a matéria da viagem não ter saído no “Jornal Nacional”.

Aí, Pedroso entregou os pontos. Virou-se para o sub-chefe da segurança e determinou. “Podem liberar geral. Ninguém mais vai precisar de credencial. A bagunça começou”. No dia seguinte, o “Estadão” dava em primeira página o “atrito entre o chefe da segurança de Geisel e o secretário de Imprensa”. A matéria, escrita pelo repórter Ari Cícero de Moraes Ribeiro, trazia todo o áspero diálogo, entre os dois. Mais adiante, Humberto e Pedroso voltaram a se estranhar, na chegada a Goiânia. Depois, a coisa abrandou.

PV

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