Bom dia
MANHÃS
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Acordo os dias com o lusco-fusco do nascer do Sol.
Bom dia pro casal de aracuãs, pras plantinhas na varanda do chalé que habito e desço até a cozinha coletiva pro café.
E ele já me espera cantando.
Sabiá-laranjeira, mestrado em Bach, Tom Jobim, Villa Lobos e Hermeto Pascoal.
Realiza trinas inacreditáveis, solfeja em frases atonais e ousa falsetes com voz dobrada. É um Milton Nascimento!
Canto de volta pra ele…
“Ponta de areia, ponto final, da Bahia a Minas, estrada natural”
Súbito, invento de perguntar sobre os motivos de tão belo canto.
O sabiá voa raso até `a mesa e resume:
“Tristeza, seu Gil…Tristeza. A última vez que a vi foi aqui perto da cozinha. Depois… pra nunca mais”.
Fico sem jeito, pois o canto tão alegre e cheio de vida para mim, na verdade, é o lamento desesperado dele chamando por ela.
Penso nos caminhos desencontrados do amor.
Quisera ser sabiá-laranjeira e poder cantar prá aliviar meu peito tão apertado.
Respiro e decido sair dançando, afinal, cantar não canto bem, mas danço feito bailarina… pé de valsa.
O Sol ganha a Guarda e eu ganho mais um dia de paz.
…………….
Gilberto Motta é escritor, jornalista, professor/pesquisador bailarino na dança do viver. Mora na Guarda do Embaú, litoral Sul de SC.