Curta nossa página


Os limões

Manifesto do limão é a revolta contra a limonada

Publicado

Autor/Imagem:
Thalita Delgado - Foto Francisco Filipino

Ontem, na mesa do bar, escutei a seguinte frase: “um limão, muitas vezes é apenas um limão, não preciso fazer a limonada, é só um limão mesmo”. E há quem diga que não aprendemos nada nas mesas de boteco. Quatro pessoas, divagando sobre assuntos diversos, e aí me veio essa: limões.

Talvez eu tenha começado a perceber que minha escrita seja muito sobre comida. Bizarro que essa mente maluca que escreve consiga fazer associações tão variadas. Talvez eu esteja com fome, mas fome de mundo, sabe? Aquela fome de sentido de tudo e de nada, entende?

Mas, o limão, né?! Pelo menos sei que ele é mesmo uma fruta. Limão é bom, não no shot, experimentei hoje e me deu uma dor no estômago danada antes da feijoada. Mas ele é bom, dá pra fazer umas coisas: temperar peixe, usar na salada, colocado com água morna desengordura coisas, usar como aromatizante, com mel e pinga ajuda na garganta que é uma maravilha…

Então, por que insistir infinitamente que: “quando a vida te der limões, faça uma limonada”, novamente, frase na mesa do bar que falamos ontem?

Talvez, estejamos preocupados demais em sermos os fazedores de coisas, de transformar coisas, de correr atrás de coisas, e pra quê?

Será que não daria apenas para pegar o limão e deixar ele ser ele mesmo, como fruta que é?! Corta, coloca na Coca, de manhã, pra curar a ressaca das quintas, sextas ou segundas…

Será que não podemos apenas não fazer nada? Será que estamos mesmo usando os limões como deveriam? Porque, assim, a gente pode amar uma limonada, mas é necessário? A vida, né, gente? Estamos aqui, toda hora, quase que 100% do dia achando que precisamos transformar coisas, mudar coisas, falar sobre coisas…

Será que precisamos sempre estar solucionando coisas, transformando coisas, sendo coisas?

É uma ideia absurdamente cansativa estarmos sempre fazendo limonadas…

É mecanizar o processo, é olhar tudo como sendo matéria prima de alguma coisa. Depois a gente tem a cara de pau de falar que não sabemos porque estamos cansados. Ora bolas – que piegas usar ora bolas, mas a sonoridade é ótima – estamos cansados porque nunca paramos de ser fazedores de limonada. Vamos fazer as pazes com os limões e deixar que eles sejam apenas limões?!

————————————

Thalita por Thalita – (@tha_delgado): Sou muitas, algumas eu já fui, algumas ainda serei, mas, no fundo, sempre mudando. Jornalista por teimosia. Publicitária por conveniência. Empresária por exigência da vida. Crocheteira e escritora por acreditar nos sonhos e por precisar da arte para me expressar e sobreviver. Músicas, livros, linhas, sebos, cafés e cervejas no meio deles, me perco no tempo e me encontro na sensibilidade das pequenas coisas cotidianas. Na pluralidade do que me constitui, elegi o caminho das histórias para sensibilizar quem, assim como muita gente, acredita que a vida se faz rindo e chorando, título do primeiro livro lançado em 2024 pela Editora Autoria.

 

 

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2025 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.