Que país é esse?
Manter viva a esperança no Brasil de faz de conta é um ato revolucionário
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Triste do país em que uma expressiva parcela da população prefere a arrogância e a soberba à humildade. Pior é priorizar o ódio ao acolhimento e a fé. Assim como defender prezar liberdade em detrimento da tirania, separar o bem do mal e as pessoas boas das ruins é coisa de comunistas. E o que dizer da sociedade que, de uns tempos para cá, se dividiu em duas classes reconhecidamente bem distintas? Uma, imoral, pedante, separatista, falso moralista, bajuladora, metida a rica e que se acha acima do bem e do mal, se auto rotula “patriota”.
Menos aquinhoada, boa parte faminta, sem emprego e sem futuro, a outra é chamada de pobre, analfabeta, favelada, marica e, portanto, “esquerdopata”. Os representantes desse segmento raramente são eleitos para os parlamentos nacionais e nunca são convidados para circular pelos nobres salões, nos quais os capachos da elite têm reserva antecipada. Sem recursos e sem apoio, são os que choram e morrem de “gripezinhas”. Que país é esse em que ordem e progresso não passam de utopia? A ordem é a desordem, a bagunça é o retrocesso. Que país é esse em que o Estado é a febre e o povo a doença?
Seria esse um país de faz de contas, daqueles onde quem paga a conta é o povo? Ou daqueles em que alguns se destacam pelo caráter e outros pela falta dele? Certamente que sim! Felizmente essa nação não é o Brasil de todos os brasileiros. No nosso país tropical, a alegria é nacional. Nele não há tristeza, ódio ou realeza. Por aqui, a parceria, a solidariedade e a compreensão política são temas caros para qualquer cidadão, seja ele de direita, de esquerda, de centro ou de coisa alguma. Como escreveu o mineiro Ary Barroso em uma noite chuvosa de 1939, “esse Brasil lindo e trigueiro é o meu Brasil brasileiro”.
O que importa se não somos mais identificados pelo separatismo do Rio Grande do Sul, pelas comidas típicas, pela MPB, pelo futebol, pelas festas populares, tampouco pelo simpático cachorro Caramelo. Importante é que parte de nós se uniu contra a vacina que salvou milhões de pessoas da morte pela Covid 19. Fechada com um presidente que não tratou do vírus como devia por não ser coveiro, outra parte dessa parte deu gargalhadas diante da dor e do sofrimento de irmãos com respiração ofegante e bem próxima do fim.
O mais relevante foi a união dessas duas parcelas contra a diplomação e posse de um presidente legitimamente eleito. Deixamos de ser solidários no câncer para torcer pela morte de um papa cujo maior crime foi se aproximar e pensar como os pobres. Coisas do Brasil dos patriotas? Obviamente que não.
Tudo isso decorre do amontoado de mentiras produzidas pela esquerda corrupta, venezuelizada, sem vergonha e capaz de tudo para manchar a imagem de probidade, seriedade, integridade e honestidade de um homem que fez o impossível para que o Brasil deixasse de ser o Brasil. Mais algum tempo e hoje talvez estivéssemos incorporados aos Estados Unidos de Trump, a Israel de Netanyahu ou à Hungria de Viktor Orbán. Não posso creditar na conta dos deputados e senadores do Partido das Lágrimas (PL) a inspiração para o programa televisivo Qual é a música? Todavia, devo afirmar que, embora não se lembrem sequer do primeiro verso do Hino Nacional, suas excelências conseguiram a proeza de transformar seus mandatos em um samba de nota única.
Com louvor e as bênçãos de Sila Malafaia, eles são os nobres autores solidários da proposta de anistiar aqueles que, sem as máscaras de cidadãos ordeiros e do bem, por pouco não derrubaram a República. Mais uma vez, tudo culpa da esquerda hedionda e incapaz de entender que não há possibilidade de paz, harmonia e felicidade geral sem armas, aquartelamentos e golpes. Considerando que é no Brasil da direita que está o atraso, apesar dos apelidos de corruptos, ladrões e bandidos, prefiro o risco do Brasil liderado pelos democratas.
Ainda que fantasiados de bons moços, são eles que me asseguram o respeito às minhas opiniões e escolhas políticas. Não tenho vocação para revolucionário, mas, repetindo a célebre frase de Paulo Freire, “num país como o Brasil, manter a esperança viva é em si um ato mesmo revolucionário”. Freire só não falou em país utópico. Eu falo e, apesar de tudo, mantenho viva a esperança. Em tempo, lembro que a principal diferença entre os dois brasis é a verdade.
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Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras