Feminicídio
Mãos de quem ama e a violência doméstica que abala o Nordeste
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No silêncio das casas simples, de janelas abertas e cortinas que dançam com o vento do sertão, há histórias que gritam — mesmo quando ninguém escuta. Histórias de mulheres que aprenderam, desde cedo, que o amor, às vezes, chega de forma distorcida: em gritos, em tapas, em silêncios forçados.
No Nordeste, terra de fé e resistência, as mãos que antes plantavam, bordavam e acolhiam, muitas vezes se tornam marcas de uma dor escondida. São mãos calejadas pela luta da vida, mas também feridas por quem deveria cuidar. O amor, que deveria ser refúgio, torna-se prisão. E a casa, que deveria ser abrigo, vira cenário de medo.
Maria, Joana, Luzinete… nomes que se repetem nos jornais, nas rádios, nas conversas sussurradas das vizinhas. Cada uma delas carrega no corpo e na alma a lembrança amarga de um “eu te amo” que veio seguido de um “me perdoa”. E o ciclo recomeça, entre promessas e lágrimas, porque o coração quer crer que um dia ele vai mudar.
Mas o tempo ensina, de forma dura, que o amor não machuca. E que o silêncio também é uma ferida. Nas feiras, nas igrejas, nos terreiros, nas praças — o assunto ainda é tabu. Muitas preferem calar-se, com medo do julgamento, da solidão ou da falta de apoio.
Contudo, entre as sombras, brotam vozes. Mulheres que se unem, que erguem a cabeça e transformam a dor em luta. Associações, coletivos e campanhas se espalham pelo Nordeste, mostrando que resistir também é amar — amar a si mesma, à vida e às outras.
As mãos que um dia foram feridas agora costuram novas histórias: de força, de cura e de liberdade. Porque amar, de verdade, nunca é possuir, nunca é ferir. Amar é permitir que o outro floresça, sem medo.
E assim, no coração quente do Nordeste, o sol nasce mais uma vez — iluminando as mulheres que, com coragem, transformam o que era dor em renascimento.