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O X da questão

Matemática bolsonarista falha e acaba levando o mito para exílio

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior* - Foto Fábio Rodrigues Pozzebom

Metaforicamente, mas sem metáfora alguma, o ciclo da vida é a matemática sem complicação, intensa e tão grande de pensamentos que, invariavelmente, esquecemos do somatório principal, que é viver. Base de todas as belezas da vida, os algaritimos da existência têm seus lados positivos e negativos. Simples assim. Na matemática da vida, nem sempre um mais um é igual a dois. Às vezes, o resultado pode ser você sozinho. É justamente nesta conta que os inteligentes se desenvolvem e os ignorantes se complicam. Nessa quadra que vivenciamos, a principal autoridade do país experimenta isso cada vez mais isolado. Para ele, matemática é apenas adição, subtração, multiplicação e divisão. Passou disso, é macumba, satanização, obra do comunismo. Sintetizando, a matemática bolsonarista falhou feio e a consequência foi o exílio forçado do mito.

O efeito é que os números fugiram para o outro lado e geraram um exílio forçado que já dura 16 dias. O mito e seus seguidores esqueceram que, como qualquer ser humano, nasceram sob um número, cresceram preocupados diariamente com as contas, ele virou militar atendendo por dois ou três algarismos e, no dia em que passar desta para melhor, também será lembrado por dois ou três dígitos. Não sei será o caso dele, mas o pior é quando partimos e deixamos para os filhos e familiares até segundo grau o pagamento de pendências numéricas que deixamos de honrar. O problema fica insolúvel quando decidimos desacreditar do conhecimento estatístico, questionar as evoluções aritméticas e da computação e não aceitar os cálculos eleitorais definitivos, principalmente quando estes não lhe são favoráveis. Aí, o isolamento inicial pode se transformar em abandono.

Se pudesse, diria para ele (o presidente denominado mito) que, passado o tédio da derrota e o glamour dos palácios, o melhor caminho é parar de buscar o seu X matemático, isto é, o X da questão. É mais fácil aceitar o fato de que ele se foi. Embora seja uma ciência exata, a matemática nem sempre cumpre seu papel com a necessária exatidão quando o assunto é política. A afirmação não é exagerada. Um candidato acreditar demasiadamente – ou desacreditar na mesma proporção – nos números e sentar – ou se imaginar sentado – de forma antecipada na cadeira de mandatário federal, estadual ou municipal traz maus presságios. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem péssimas lembranças desta suposta máxima.

Claro que isso não é regra, tampouco exceção. A lógica, porém, é reveladora: dificilmente quem tem a máquina à disposição consegue ser espremido no ringue. Jair Messias Bolsonaro foi. Apesar de todo poderio bélico, do controle das redes sociais, dos abusos religiosos, das adjetivações chulas e dos auxílios eleitoreiros, perdeu estrogonificamente no primeiro e no segundo turnos para Luiz Inácio. Garboso dono de uma caneta Bic, comandante da máquina e ordenador de despesas, Bolsonaro não mostrou capacidade de reverter o quadro desde que a candidatura de Lula da Silva chegou às ruas. Aliás, essa capacidade lhe faltou desde a posse, em 1º de janeiro de 2019. O próprio Lula já havia escorregado na matemática à qual me refiro. Simples e inquestionáveis, os estatísticos, inclusive os que integram os quadros dos institutos de pesquisas, produzem números que provam o que digo.

Podem até errar, mas raramente falham no final. Quem não se lembra de 1994 e de 1998? Luiz Inácio e a militância do PT encheram as ruas de gente, mas FHC, prefeito que não ganhou de Jânio Quadros, venceu ambas as disputas no primeiro turno. Por que agora os matemáticos e a matemática seriam diferentes com Bolsonaro? Por falar em números, vale novamente lembrar que, embora seja usada como base essencial de toda ciência exata, a matemática está se transformando em uma ciência inexata. E tudo por causa do homem, “pecinha” que fica atrás dos livros e principal responsável pela palavra final para quaisquer dúvidas acerca da matemática. Aportuguesando a afirmação, cabe à comunidade de cientistas decidir quais conclusões são erradas e quais provas são legítimas. O presidente em referência não acreditou nisso.

Se achou – talvez não se ache mais – superior a tudo e a todos, acabou derrotado pela lógica matemática dos votos. No somatório da indelicadeza, da estupidez, da grosseria, das ameaças e da compra desmedida de sufrágios, o resultado é o fracasso retumbante do golpismo. Aí, vale refletir enquanto há tempo sobre dados futuros. Mantida a insurreição dos estultos que insistem em tumultuar a vida do brasileiro, a cobrança de multas determinada pelo Judiciário alcançará cifras estratosféricas. E quem lucrará? O presidente eleito, que poderá aplicar os recursos decorrentes da burrice humana nos brasileiros que têm fome. É a realidade da máxima de Galileu Galilei, para quem a matemática é o alfabeto com o qual Deus escreveu o universo. Enfim, são os números servindo aos desígnios divinos. Concluindo, lembro um pensamento de Albert Einstein: “A matemática é, à sua maneira, a poesia das ideias lógicas”. Aquele que não passou da tabuada dificilmente conseguirá decifrar o X matemático do homem. Muitos tentam, mas poucos conseguem.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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