Ordem quebrada
Matriarca dribla lei do palavrão descarregando tudo no ‘oi’ do Viriato
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Naquela casa, apesar de certas desavenças, era proibido falar palavrão. Quer dizer, todo mundo falava, mas, de tão baixinho, era possível afirmar, com quase certeza, que só o falante era capaz de ouvi-lo. Entretanto, apesar da proibição, e talvez até mesmo por conta dela, Gertrudes, a matriarca, encontrou uma brecha no decreto familiar.
— Teu oi!
— O que a senhora disse, vovó?
— Teu oi, Viriato!
Não apenas o destinatário da ofensa, mas todos os presentes ficaram boquiabertos.
— Teu oi?
— É, Viriato! Teu oi!
Ao mesmo tempo em que a velha repetia sem parar, ela apontava para os olhos do neto.
— Ah, mamãe, a senhora quer dizer teu olho?
— O oi do teu fio, Jurema!
Diante de tal revelação, ninguém se atreveu a passar pito na velha por tamanha descompostura. Também não tiveram coragem de se apropriar do modo de xingamento usado por Gertrudes. Preferiram continuar no quase silêncio na hora das ofensas, apesar de, vez ou outra, serem alvos da fúria da idosa.
— Teu oi!
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Eduardo Martínez é autor do livro 57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’
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