Curta nossa página


200 milhões de mortos

Médicos descobrem centenas de anos depois origem da peste negra

Publicado

Autor/Imagem:
Antônio Albuquerque, Edição - Foto Reprodução

A Peste Negra, que ceifou a vida de 75 a 200 milhões de pessoas na Eurásia (hoje dividida como Europa e Ásia) e Norte da África entre 1346 e 1353, foi provocada por um vírus transmitido por ratos e outros pequenos roedores.

A origem da praga foi revelada pelo historiador Phil Slavin, professor associado da Universidade de Stirling, na Escócia, que há muito sonhava em descobrir de onde surgiu a doença.

Para chegar a essa conclusão, ele foi encarregado de examinar lápides do século 14 com letras siríacas encontradas em dois túmulos no que hoje é conhecido como Quirguistão.

Os cemitérios – localizados perto do Lago Issyk-Kul, no Quirguistão – foram escavados pela primeira vez na década de 1880 e, em 2017, foram reanalisados ​​por Slavin e sua equipe.

As inscrições nas pedras do século 14 revelaram algo chocante: das 467 lápides examinadas, 118 delas eram datadas de 1338 ou 1339. As inscrições nessas pedras diziam que a causa da morte foi “mawtānā”, uma palavra siríaca que significa “pestilência”.

“Quando você tem um ou dois anos com excesso de mortalidade, significa que algo estava acontecendo. Mas outra coisa que realmente me chamou a atenção é o fato de que não foi em qualquer ano – porque foram apenas sete ou oito anos antes que a (praga) realmente chegasse à Europa”, disse Slavin.

Trinta dos restos mortais que foram exumados na década de 1880 foram levados para o Museu de Antropologia e Etnografia de Pedro, o Grande, em São Petersburgo, Rússia. Com permissão do museu, o professor Johannes Krause, que trabalha no Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, e a doutora Maria Spyrou, que trabalha na Universidade de Tübingen, na Alemanha, retiraram DNA dos dentes dos restos mortais.

Depois de estudar as extrações de DNA, os cientistas encontraram a bactéria Yersinia pestis em três dos sete indivíduos cujo DNA eles puderam estudar. Aqueles com o DNA bacteriano morreram em 1338, apenas nove anos antes de os navios mercantes levarem a Peste Negra para o Mediterrâneo.

Segundo os pesquisadores, o material genético da bactéria é, na verdade, um ancestral direto da cepa responsável pela praga que matou 60% da população da Eurásia em meados do século XIV.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) , até 3.000 casos da peste ainda são relatados todos os anos, principalmente na África, Ásia e América do Sul.

Uma pulga de rato infectada pode transferir a bactéria para humanos, ou a bactéria pode entrar em um corte na pele de uma pessoa se essa pessoa tiver tido contato direto com a carne ou sangue de um animal infectado. A bactéria também pode se transferir através da respiração em gotículas da bactéria de um humano ou animal infectado. Mas com a administração imediata de antibióticos, mais de 90% dos infectados geralmente se recuperam.

Apesar de não saber exatamente qual animal foi o responsável por transmitir a praga aos humanos – embora especulem que poderia ter sido, ou pode estar relacionado a ratos e marmotas selvagens que vivem nas montanhas Tian Shan perto de túmulos – os pesquisadores dizem que ter descoberto a origem geográfica da peste é um importante trampolim no estudo das pandemias, tanto histórica quanto atualmente.

“Assim como Covid, a Peste Negra foi uma doença emergente e o início de uma enorme pandemia que durou cerca de 500 anos. É muito importante entender em que circunstâncias ela surgiu”, disse Krause.

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência Estadão, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.