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Meira Filho, a quem os amigos chamavam simplesmente João

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José Escarlate

João Assis Meira Filho foi meu companheiro de trabalho na Agência Nacional e amigo até a morte. Conquistava seus fãs com seu programa de rádio. Para mim, ele era o João. E o Meira gostava. Sangue quente, ele sabia se controlar. Era agradável, simpático e gostava de ajudar a todos. Preparava seus programas com carinho, escudado nos livros. Lia muito.

Velho servidor da Rádio Nacional, no Rio, Meira trabalhava com o animador César de Alencar, até decidir vir para Brasília, em 1959. Foi quando ingressou na Agência Nacional, sendo locutor oficial da Presidência da República, formando com Éverton Correa e Ruy Carneiro, o trio que levava ao ar A Voz do Brasil, no governo JK.

Fundador da Rádio Nacional de Brasília, Meira Filho transmitiu pela TV a inauguração da cidade e lançou o primeiro programa de auditório da emissora, o “Programa do Meira” por mais de 15 anos, sendo líder de audiência. Começava às 5 da manhã e ia até às 9 horas, todos os dias. Condução na cidade era difícil. Não havia linhas de ônibus. A solução era o transporte solidário.

Quando eu saía da 411 Sul, às 7 da manhã, onde morava, em direção ao Palácio do Planalto, o Meira, pelo microfone da Nacional anunciava que “o repórter Escarlate está passando pelo Eixo Rodoviário no jeep cinza placa tal (não me recordo), da Agência Nacional, em direção à Praça dos Três Poderes”. E acrescentava: “É carona boa e segura”.

Apaixonado por Brasília, o Meira era disposto, apesar da idade. Nasceu em Taperoá, Paraíba, em 1922, amigo de infância de Ariano Suassuna. Após longo tempo no Rio, foi aqui que ele se firmou.

Por força do grande sucesso dos seus programas radiofônicos, procurando ajudar as pessoas pobres, carentes, doentes ou não favorecidas na vida, Meira sempre teve muito apoio dessa camada da população, mesmo porque também era um nordestino como a grande maioria dos candangos que por aqui chegavam, em jardineiras e caminhões dos chamados pau de arara.

Sentindo essa força, amigos decidiram lançar o seu nome, na primeira eleição a ser realizada em Brasília para a escolha de candidatos à Câmara e ao Senado. Bem cotado, Meira foi eleito por expressiva votação, somando 130 mil votos. Seus companheiros de Brasilia na Câmara Alta foram Maurício Corrêa e Pompeu de Souza.

Nesses anos, tentou, mas não conseguiu ser nomeado diretor da Radio Nacional, um sonho. Durante o governo Sarney ganhou uma emissora de rádio, na ampliação do número de canais de rádios FM.

Um dia, jogando conversa fora num banco da pracinha central do Centro Comercial Gilbero Salomão, o velho Meira – João para mim – desabafou: “Veja só Escarlate, como o destino é ingrato. Depois de dedicar quase toda a vida ao rádio, onde fiz de um tudo, precisei ser senador para ganhar do governo uma emissora”. Meira jamais perdeu a dignidade. Buscava alcançar seus objetivos por mérito próprio e muito trabalho.

No Senado, timidamente aprendeu o caminho das pedras. Adaptado, foi ele o autor do projeto de lei obrigando o uso do cinto de segurança em veículos automotores. Pela sua magnitude, foi incorporado ao Código de Trânsito Brasileiro. Estava certo o velho Meira. O uso obrigatório do cinto de segurança teve o mérito de reduzir o número de mortos e feridos em acidentes de trânsito, tanto nas cidades quanto nas estradas. João Assis Meira Filho morreu em 8 de junho de 2008, em João Pessoa, aos 85 anos, vítima de aneurisma cerebral. Foi sepultado no Campo da Esperança, em Brasília, no início da noite.

PV

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