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Velho de programa

Meme abre a cabeça dos ociosos para novas ideias

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Reprodução Dreamstime

Deus faz e junta é um dos mais antigos e verdadeiros ditados de que tenho notícia. Junta fatos, pessoas, coisas e sentimentos. No meu caso, juntou vontade, coragem e uma boa dose de óleo de peroba para untar a cara de paisagem para ouvir o que não queria quando decidi me antecipar à vida. O ocorrido se sucedeu lá por meados de 1923, ocasião em que, ainda menino, adiantei para meus pais e avós que, quando crescesse, seria velho de programa. Na época não imaginei que um dia esse tal de programa viraria moda. É um modismo bastante rentável e que nada teria a ver com Chacrinha, o Faustão ou o Luciano Hulk.

Lembro que a caixa registradora já tilintava de tal forma que um vizinho, pai de seis filhas bonitas e corpulentas, ficou perplexo ao ouvir o que o neto do meio pensava do futuro. Sem papas na afiada e pontiaguda língua, o fedelho foi claríssimo ao afirmar para o avô que, na fase adulta, não gostaria de ser apresentado a profissão alguma. Tudo que queria era ganhar dinheiro. E muito. Mas como enriquecer sem profissão? Simples para o menino bem acima do seu tempo. “Eu quero é ser cabeludo. Preciso ter cabelo por todo o corpo”. Na minha santa ignorância, até eu fiquei curioso. Mas por que tanto cabelo? “Para ganhar dinheiro”, respondeu o moleque. Ué!

Diante de tanta curiosidade, o sacripanta me confidenciou no pé do ouvido: “Tio, minhas tias têm só uma moitinha e todas ganham dinheiro a dar com o pau. Se elas podem…”. Eita menino esperto do cacho. Tudo a ver. Voltando lá em 1923, foi assim que descobri minha futurística vocação, mesmo imberbe e com aquilo por surgir. Percebi que, após a aposentadoria, essa seria a fórmula mágica. Parti para idealizar o sonho que até hoje continua sendo sonhado. Não realizei, mas continua bem fresco na cabeça. Falta a coragem que, lá em 1923, quando tive a certeza de que, em 2023, 100 anos após, queria ser “velho de programa”.

Como disse o neto do vizinho, se as garotas podem…Lendo um desses memes que inundam o zap zap, me vi espelhado naquele texto que parecia ter sido escrito para mim, um simpático senhor, com algumas horas livres, muita insônia nas madrugadas e precisando ganhar uns cobres extras. A ferramenta está enferrujada, mas o óleo desengripante está aí para isso. Embora cobertos pelas cataratas, os olhos meio castanhos são lindos. Os cabelos são loiros somente dos lados. Atlético (o mineiro), tenho o corpo sarado das doenças que já tive. Sei que não irão acreditar, mas meço um metro e noventa, sendo mais ou menos um de altura e noventa de largura. Como veem, estou bem acima da média.

Sem preocupação com a avalanche de recursos que certamente chegarão aos Procons e às delegacias da Mulher, na cama nunca sugiro menos de três…três opções para a parceira: sonolento, dobrado ou morto. Seguindo as orientações do meme, sempre aviso antes que, se for do agrado da contratante, posso usar gorros de lã, pantufas e cachecol xadrez, com predominância para o vermelho. Fetiches fazem parte do jogo. Preservativo nem pensar. Costumo pensar que é touca e caio no sono.

A ideia parece ter vingado. Tanto que já fui obrigado a providenciar cartões de visita, nos quais está em letras garrafais que só não atendo em “drive-ins”. Minhas dores na coluna não permitem. Piores são a lordose e as hérnias de DVD e de CD – a de disco quebrou faz tempo. Devo informar que tenho “Parkinson”, o que facilita no momento dos entretantos, as famosas preliminares. Esqueci de colocar no cartão, mas vale a pena registrar que a discrição e o segredo são absolutos: o “Alzheimer” me faz esquecer tudo o que fiz na noite anterior. Portanto, desde que recatadas e do lar, as interessadas habilitadas já podem enviar cartas para a redação. Moral da história: como um meme despretensioso mexe com a cabeça dos ociosos.

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