Saltimbancos
Meu quintal
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Meu quintal tem um coqueiro anão que dá saudade e canção.
Nele revejo o Farol da Barra, Caetano jovem e Moreno Veloso ainda menino. Caymmi pisa a grama, tocando nota por nota do chão feito violão.
No meu quintal, tem avelã em novembro e um pé de panetone que floresce em dezembro. Neles colho saudades e me alimento do carinho materno e paterno.
No meu quintal tem flores, cores, sabores, cantores e lembranças solares.
No meu quintal, tem “um comboio de cordas que se chama coração”.
Tem “um porquinho da Índia” …
Tem todos os livro do Jorge Amado.
No meu quintal, tem muros altos como burgos que fazem caretas para fascistas.
Muros que acenam às andarilhas de luto à procura da irmandade livre de amarras servis.
No meu quintal, as bananas nascem tortas (por óbvio!).
E, ao fitá-las, reconheço minha natureza inconformada.
O meu quintal é brisa perfumada e indelével… Oásis de acolhimento e labor …
Ocupação de saltimbancos.
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Edna Domenica é autora de poemas, contos e crônicas. Organizadora das coletâneas: Tudo poderia ser diferente, inclusive o título (Amazon, 2021), Do Corpo ao Corpus (Gráfica Rocha, 2021), Relógio de Memórias ( Postmix, 2017). Sente-se grata à equipe do Café Literário por poder ocupar o espaço de escrita autoral e leitura de autores coetâneos (de alguma forma “saltimbancos”…).