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Palavras fantasiosas

Ministro Rui Costa, pare e olhe bem para o chão em que pisa

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Fernando Tolentino - Foto Marcelo Campanato/Via ABr

Eu me considero baiano. Portanto, ainda bem que o ministro Ruy Costa (Casa Civil) teve, como governador, oito anos para conhecer razoavelmente a Bahia. Bem mais que os cinco meses em que, ao menos oficialmente, vive e trabalha em endereços brasilienses.

Ressalto o “oficialmente”, pois as suas declarações dão a entender que ainda não se distanciou do trajeto Palácio do Planalto-residência-aeroporto.

Há muitos anos não se tem notícias de tamanha carga de preconceito contra o Distrito Federal. É um alívio que o presidente Lula conhece várias cidades satélites de Brasília e sua gente.

Ao ministro, não custa alertar que ele fala, sem conhecer, de uma cidade com cerca de 3 milhões de habitantes. Se o ministro fizer um dia o trajeto Barreiras-Brasília de automóvel, talvez passe a chamar esse trecho da BR-020, como eu, de “rodovia das ambulâncias”.

É que o principal investimento de boa parte dos prefeitos do oeste da nossa Bahia é justamente a compra de ambulâncias. Daí, resolvem as maiores emergências médicas ou casos que requerem hospitalização encaminhando os pacientes para Brasília.

Embora em número menor, ainda é na capital do País que não poucas famílias do Oeste baiano sonham em ver os seus filhos estudando.

De fato, as escolas brasilienses oferecem um nível apreciável de qualidade.Infelizmente, é um fenômeno que não ocorre somente com municípios baianos. Repete-se em Minas Gerais, quase todo o Nordeste, Tocantins e principalmente Goiás.

De forma mais alarmante na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno, que reúne 33 municípios e mais de 4,8 milhões de habitantes. Nem imagine o ministro que a população do Distrito Federal desfruta de níveis equivalentes em todas as suas escolas.

Alguém podia lhe informar que a capital do País tem o maior nível de desigualdade do Brasil. Para que os problemas sociais de Brasília lhe saltem aos olhos, impedindo avaliações tão precipitadas, não é preciso o ministro percorrer mais que cerca de 800 metros e fazer um “rolê”, no horário comercial, pelo centro da cidade. Basta não mais que a Estação Rodoviária e o Setor Comercial Sul.

Se passar aqui algum sábado ou domingo, sugiro que vá à casa de alguma copeira do Palácio, tomar um café com a sua família. Talvez dando também uma passada na residência do motorista que lhe atende. Certamente voltará da sua excursão com uma impressão diferente do que chamou de “ilha da fantasia”.

Se lembrar o que dispõe a Constituição sobre os órgãos de segurança da capital, “organizados e mantidos pela União”, não será difícil concluir pela necessidade do Fundo Constitucional do Distrito Federal.

Ainda mais se atentar para que cabem à Polícia Militar, à Polícia Civil e ao Corpo de Bombeiros manter incólumes todas as embaixadas e os órgãos do governo federal, inclusive a Praça dos Três Poderes, o Palácio da Alvorada e as casas em que vivem ele e os demais ministros.

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