Curta nossa página


Pagando juros

‘Mito’ vai engolindo poeira e Lula viajando em céu de brigadeiro

Publicado

Autor/Imagem:
Sonja Tavares - Foto Ricardo Stuckert

Endosso o coro daqueles que, construtivamente, avaliam o silêncio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um dos mais eloquentes sinais da boa política. Nada contra a voz rouca do comandante, mas, a exemplo do que um dia disseram do nosso eterno Rei Pelé, em tempos cabulosos qualquer pio soa como apito de trem ou como um tiro para iniciar uma corrida com dez mil metros de obstáculos. No português traduzido para o politiquês, em boca fechada não entra mosca, tampouco saem cobras e lagartos. Instabilidade, necessidade de responder maledicências ou apenas o desejo involuntário de jogar luzes sobre seus maiores inimigos. Não importa o que seja. Importante é que o momento é de cálculos, principalmente nos que saem da alma.

Claro que falar é um direito inalienável e intransferível do ser humano. Pior é falar é não cumprir. Ainda em campanha, Lula disse que o povo ainda voltaria a comer picanha. De forma maldosa, seus opositores arrumaram um jeito de embutir a abóbora no contexto. Na verdade, confundiram com o antecessor, cuja ira era justamente imaginar que o cidadão comum poderia recuperar a mesa farta de outrora. Erraram o alvo e tentam a qualquer custo creditar ao atual presidente a responsabilidade pelas mazelas do país. Fora a verborragia desenfreada, é difícil buscar malfeitos de Luiz Inácio nesses quase quatro meses de governo.

De forma sutil, concordo com as reclamações alusivas à necessidade do silêncio presidencial. Às vezes, calar-se lembra um retumbante grito. Para os que reclamam gratuita e nocivamente, a solução é simples: tentem recuperar os votos perdidos em 2022, disputem e tentem vencer as eleições de 2026 para só então, em caso de vitória,, fazerem o que não fizeram em quatro anos. Querem mais? Perguntem a Zé Carneiro e Pedro Malazarte. Juntos, articularam mal, pensaram errado, agiram pior ainda e foram obrigados a fugir antes de o golpe fugir pelos dedos. Por falta de projetos, restou a ambos estimular a baixaria de grupos na Câmara e no Senado. Triste fim para quem se achava.

Em pouco mais de 100 dias de gestão, Lula ainda não fez metade do que sonhou para o período. O apoio da maioria ainda claudica no Congresso, mas, quer aceitem ou não, já fez o tenente falastrão engolir poeira. Tranquilizar o mercado financeiro, o consumidor e dar garantias ao empresariado e ao agronegócio podem ser insuficientes na teoria, mas, na prática, pelo menos agora todos sabem que o país tem rumo e prumo. Satisfeita ou não, a oposição tem certeza de que o cenário é bem menos incerto do que nos tempos em que o golpismo utópico estava acima de qualquer ideia de consolidação socioeconômica. Deu no que deu.

Lula pode ter feito bem menos do que esperavam. Eu não acho. Nesses 123 dias, recuperamos uma esfacelada parceria com a China, com a qual foram assinados 20 acordos em setores variados, firmamos contratos com os Emirados Árabes e abrimos 16 novas frentes com Portugal. É pouco, mas muito mais do que foi produzido nos últimos quatro anos. Interna e externamente, a maior certeza é que pararam de irresponsavelmente brincar com o país. Desde o primeiro dia de 2019, o Brasil e a maioria dos brasileiros perceberam que a meta estava errada. E o que fez Lula e seus eleitores? Corrigiram a meta. Em breve, farão o mesmo com os juros.

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência Estadão, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.