Maldade motivacional
Mitos e “patriotas” que não se acham medíocres são o pior mal do nosso tempo
Publicado
em
Desacostumado à sensatez e destilando ódio contra tudo que esteja associado à vontade de acertar, o povo ligado ao malabarismo desatinado e defendido pelo mestre do quanto pior melhor continua apostando em dias melhores após o acerto dos Bolsonaro com Donald Trump, o maestro da maldade. Com medinho de um comunismo que eles sabem que jamais existirá no Brasil, os bolsonaristas embarcaram de vez na onda icônica do besteirol comunista, imaginando acordar dia desses com a volta do herói dos quadrinhos japoneses. Embora absurda e tão tola como eles, a intenção dos “patriotas” idiotizados sempre foi desestabilizar Alexandre de Moraes e revogar a irrevogável decisão pela inelegibilidade do viúvo da urna eletrônica.
Talvez queiram encontrar pelo na careca de Xandão. É claro que não encontrarão, mas pode ser que o xerifão do STF resolva liberar o mito para, de tornozeleira eletrônica, gerenciar um dos quiosques da Praia de Maria Angu. Depois de quatro anos de uma experiência prá lá de frustrada, é o máximo a que ele ainda pode chegar. Traiçoeiros como o intestino grosso e mais enferrujados do que cano de passar tolete, Bolsonaro e seus seguidores acham que sabem de tudo. São vários zeros à direita e à esquerda, mas não admitem a mediocridade como um dom herdado há séculos por todos aqueles que se acham superiores a uma lesma supersônica. É esse o pior mal do nosso tempo. Há mais bestas do que santos. No caso do Brasil, a maldade humana tem apenas uma motivação: a busca insana pela superioridade. É o caso do deputado (?) Eduardo Bolsonaro.
Não há como dissociar os defensores dessa tese do ditador Adolf Hitler e sua maluquice da pureza da raça ariana. Um morreu lutando pela purificação do ser humano. O outro um dia também sucumbirá, mas antes fará novas tentativas pela perpetuação no poder e pela castração da liberdade e da paz dos que trabalham dia e noite pelo crescimento econômico e social do Brasil. Percebendo que não dá mais ibope atrelar práticas violentas à esquerda, o mito morde o travesseiro tentando se reemplacar no noticiário político. Enquanto tenta, as páginas policiais estão abarrotadas das “obras” inacabadas ou nem começadas de sua insolência. A cada flash, uma nova sacanagem do governo que, em nome de Deus e dos bispos evangélicos, quase levou o país à falência democrática e ao martírio social.
Adaptando à nossa realidade antiga frase de Rui Barbosa, com a manutenção de Bolsonaro como herói, certamente “chegaríamos à barbárie sem atingirmos o apogeu como nação”. Isso os zeros um, dois, três e quatro do clã nunca mostraram nas redes sociais demonizadas. Aliás, eles esconderam – e escondem – qualquer insinuação nesse sentido. É bom que o façam, pois, conforme o contista e dramaturgo alemão Bertolt Brecht, “infeliz a nação que precisa de heróis”. Não que eles sejam desnecessários. Desnecessários são os falsos heróis, do tipo mitos de fundo de quintal. O problema desse tipo de herói é justamente o que ocorre hoje na sociedade brasileira. Um grupo especializado em coisa alguma se arvorou na criação de anti-heróis, paralisou sua capacidade de ação e transformou-se em prol de um herói dos contos da carochinha.
E foi graças à ficção de sua patente forjada na má educação militar que o “herói” deu o comando para o golpe, fugiu e, mesmo na terra de tio Donald Trump, se estrepou enrolado na bandeira verde e amarela. Herói do cercadinho já tivemos vários, entre eles o Japonês da Federal, Fernando Collor de Mello, Eduardo Cunha, Aécio Neves, Michel Temer, Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, os dois últimos eleitos senador e deputado federal por atos de bravura nunca comprovados. Tudo graças aos inocentes úteis, os Zé Ruela, os pela saco, os quais atingem orgasmos múltiplos quando sofrem debaixo do chicote e dos gritos dos ditadores sem noção. Curiosamente, todos eles foram “pro saco”. Faltam alguns.
Heróis verdadeiros são valentes, ousados, audaciosos, destemidos, arrojados, defensores, intrépidos e protagonistas, isto é, personagens principais de uma história real. Nunca a golpistas que propõe a outro insano intervir nas coisas do Brasil. E isso, convenhamos, Jair Messias nunca será. Felizmente já tivemos – e voltamos a ter – guerreiros sérios e preocupados com os heróis que dormem com fome e acordam com suas casas soterradas ou debaixo d’água. São eles que fizeram do medo a maior forma de desassombro. Herói de verdade não usa capa, não tem poder especial e não se escora em mandatários sem história alguma. A última eleição presidencial mostrou que há um super-herói em todos nós. Foi só criar coragem para que os brasileiros convictos e conscientes colocassem a capa e descartassem de vez o herói do frango com farofa. Saibam que o que é bom se repete. E não os esperneios diante de Donald Trump.
………………
Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais