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O cão de Efigênia

Moco resistiu ao golpe na poupança, ao golpe na democracia, mas cansou…

Publicado

Autor/Imagem:
Gilberto Motta e Edna Domenica - Foto Editoria de Artes/IA

Efigênia chegou até a praia. E com ela o Moco. Cachorro de idade e parceiro de toda vida.

Moco corria pela areia do jeitão dele. Dois passos e um tropeço.

Efigênia corria junto. Foram tantos anos assim no mesmo ritmo.

Juntos testemunharam Collor imitando Jânio, e depois o plano que causou suicídios…

E os “caras pintadas” … E mais planos econômicos que encheram cofres ricos.

E dá-lhe “neoliberalismo”. Mas brilhou uma estrela que devolveu esperança e algo mudou. Depois veio a primeira presidenta da história da República e ela se atreveu a comercializar petróleo sem a bênção do Tio Sam. E tudo voltou à época dos coronéis.

E houve uma pandemia e com ela o negacionismo.

O desvario pelo voto impresso, os acampamentos frente aos quartéis… O golpe contra o estado de direito…

Passaram-se os anos e Efigênia e Moco ainda continuavam juntos quando chegou o tempo do descanso.

Efigênia conhecia cada palavra, pensamento e atitudes de Moco.

O cão pensava em “cachorres” e ela entendia em “humanes’.

Eram cúmplices de uma parceria sincera…

Naquele final de tarde eu estava sentado em minha cadeira de praia esperando o pôr do Sol.

Vi quando Efigênia e Moco passaram…

O Sol caindo e os dois na ponta do Costão de pedra.

De minha cadeira ainda pude ver o beijo de despedida que antecedeu o momento em que Moco pulou no mar.

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