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Guerra de palavras

Moscou e Pequim mandam Biden olhar seu quintal

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Autor/Imagem:
Bartô Granja, Edição

Foi-se o tempo da guerra fria entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética. Mas o clima de beligerância entre superpotências nunca deixou de existir. A diferença agora é que para fazer frente aos soldados americanos e seus liados europeus da Otan, o presidente Joe Biden tem um perigoso adversário pela frente. Trata-se da China e da Rússia, que alinhavam um paco de defesa mútua em caso de qualquer ataque. E juntas, as forças russas e chinesas superam, em muito, a capacidade bélica – de terra, mar e ar – de americanos e europeus.

Com essa demonstração de força. Putin está pronto a sugerir a Biden, no encontro de cúpula marcado para junho em um país neutro ainda a ser definido, que Washington deve cuidar do seu quintal, desde que não coloque os olhos em Cuba, na Venezuela e no Irã, principalmente. E levará também uma preocupação do presidente chinês Xi Jiping: Taiwan deixará ser ser autônoma quando Pequim decidir, e Washington não tem que se meter no assunto.

Pra se ter uma ideia da nova postura russo-chinesa, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, caracterizou há algumas dias as relações de Moscou com Pequim como “as melhores de toda a sua história”. O Ministério das Relações Exteriores da China, por sua vez, enfatizou que os dois países desfrutam de uma “parceria abrangente” e que “se apoiariam em questões de proteção do Estado e da sua soberania.”

O jornal Global Times, do governo chinês, alinhado ao Partido Comunista, publicou dois editoriais alertando os Estados Unidos e seus aliados para não provocarem agressões contra Moscou e Pequim, e sugerindo que as duas nações são agora significativamente mais fortes do que o antigo Bloco de Leste.

“O poder combinado da China e da Rússia é muito maior do que o do antigo bloco União Soviética-Europa Oriental. A força econômica, científica e militar da China e da Rússia não é apenas enorme em escala, mas também tem implicações mais amplas para todo o mundo. Se alguém tentar passar por cima deste fato e empurrar a China e a Rússia a unir forças em uma luta desesperada, isso será o pesadelo do adversário.

Advertindo Washington que seu “jogo estratégico com fogo” fracassaria, o jornal destacou que Moscou e Pequim se comportam de forma “estrategicamente contida” e “estão comprometidos em defender” a Carta das Nações Unidas e uma “ordem internacional baseada no direito internacional”. O texto alerta, porém, que não aceitarão mais o papel norte-americano de ‘ditador das normas’. Está claro, nas visões de Putin e Jiping, que ao procurar Isolar China e a Rússia e excluí-las de um novo sistema internacional dominado pelo Ocidente é porque Biden “reconhece o envelhecimento e o declínio da competitividade do modo americano e ocidental de governança “. Com isso, procuram descartar concorrentes em potencial.

O jornal co Partido Comunista chinês pondera que embora a Rússia e a China tenham resistido à criação de uma aliança militar formal de imediato, “quanto mais os países ocidentais fortalecerem sua aliança antagônica” contra eles, mais eles “estarão inclinados a lidar com ela em conjunto. Esta é a regra básica da política.”

Admitindo que os Estados Unidos continuam a ser o país mais poderoso do mundo “em termos de força abrangente individual” e capacidade de forçar os países a se curvarem à sua vontade, a mídia de Pequim argumenta que o “problema” de Washington é que é “muito ganancioso”, com seu desejo de hegemonia total superando suas capacidades reais e causando uma “sensação de crise e confusão sem precedentes”.

O editorial sugere que as tentativas de Washington de reunir aliados para confrontar a Rússia e a China simultaneamente falham porque “fazer isso é quase equivalente a um suicídio estratégico” e que, ao contrário da tentativa de maior unidade ocidental, comparável às “últimas gotas de água em um esponja ”, a cooperação russo-chinesa é uma“ esponja ”que“ acaba de ser totalmente encharcada de água ”.

“China e Rússia poderiam fazer mais coordenação diplomática na oposição à hegemonia e tomar medidas contra as tentativas dos EUA de fortalecer alianças. Os dois também podem explorar o enorme potencial de complementaridade econômica. Além disso, os dois países estão apenas começando a se aproximar militarmente, se necessário, pode haver muita cooperação que pode causar choques sem precedentes”, destaca o jornal em editorial.

Oferecendo conselhos aos líderes em Moscou e Pequim, o jornal argumenta que “contanto que a China e a Rússia não cometam erros, façam bem as suas próprias coisas, reforcem a coordenação estratégica abrangente entre si e aprofundem continuamente a integração com o mundo”, os EUA não será capazes de realizar sua ambição de “replicar” sua vitória na Guerra Fria.

A mídia oficial chinesa vem defendendo o fortalecimento contínuo dos laços Rússia-China. Isso ficou claro no mês passado, quando Pequim expressou o compromisso de aumentar ainda mais a cooperação com seus colegas russos, enquanto Washington e seus aliados intensificavam sua guerra de sanções contra eles. Washington impôs novas restrições importantes à Rússia no mês passado em meio a novas alegações infundadas de intromissão e invasão eleitoral.

O Ocidente também atacou a China com sanções no início deste ano pelo alegado “genocídio” em Xinjiang. Pequim denunciou as alegações de “genocídio” e apontou os momentos desagradáveis ​​da própria história de muitas nações ocidentais contra aborígenes, escravos africanos e outros.

O desenho da crise existe. Que cores serão empregadas, ninguém sabe. Mas no mês passado, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, anunciou que os americanos precisariam ser capazes de agir contra a China “de uma posição de força” e exortou os aliados dos EUA a cerrar fileiras para lidar com os “desafios” colocados pela China e pela Rússia. Ele só esqueceu que há uma pedra no cominho que atende pelo nome de Moscou.

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