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Exclusivo - 48h antes do incêndio

Múcio se faz de morto e dá contragolpe nos golpistas

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José Seabra - Diretor Editor/Foto Reprodução

“Você nos conhece e sabe da nossa experiência. Tudo isso é para amansar, acalmar e no momento certo, subjugar as tropas. Foi a missão que eu recebi. A mais cruel desse governo. O negócio aqui não está nada fácil. Estamos com risco real de insubordinação nas Forças. Eu afirmo com toda certeza que esse risco é alto. Existem dois brigadas que querem dar uma de Olímpio Mourão em pleno 2023 (…)”

Esse é trecho de mensagem trocada pelo ministro da Defesa José Múcio, quarenta e oito horas antes da chegada de uma horda de terroristas bolsonaristas para vandalizar a Praça dos Três Poderes. O interlocutor é uma figura meritória, a quem me reservo o direito de preservar o nome. Os dois ‘brigadas’, são generais de terceiro escalão, com duas estrelas nos ombros. Já Olímpio Mourão Filho, foi o golpista autor do Plano Cohen, utilizado para justificar o golpe do Estado Novo em 1937, e que, no comando da 4ª Região Militar, deflagrou o golpe militar de 1º de abril e 1964.

Na sexta-feira, 6, logo ao amanhecer, José Múcio se fez de morto aos olhos dos ‘brigadas’ e participou, embora com o semblante tenso, da reunião ministerial convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o público externo, fez ver que as manifestações dos terroristas nas portas dos quarteis estavam desaparecendo como água entre os dedos. Mas para outros dois ou três ministros, pintou o quadro real. O que ele não sabia, porém, é que Ibaneis Rocha, governador afastado de Brasília, treme mais do que folha de palmeira em vendaval.

Esse ‘nariz de cera’ acima, é para lembrar outra história dramática provocada por militares revoltosos. Desde os bancos dos colégios militares se escuta que cola é fraude intelectual passível de exclusão como falta disciplinar. Mesmo assim, todos têm fresca na memória a imagem do fujão Bolsonaro. Ele mesmo, que se utilizava de anotações na mão para lembrar o que dizer nos debates eleitorais. Um militar deveria se envergonhar de usar tal subterfúgio, mas, infelizmente, tal exigência passou a ser tolerada para alguns poucos.

No Exército, assim como em diversas outras instituições, existem as famílias tradicionais desde os Menna Barreto até os Etchegoyen. Em comum, participação nos levantes golpistas nos quartéis. Na madrugada de 16 de novembro de 1926, os irmãos primeiros-tenentes Alcides e Nelson Gonçalves Etchegoyen lideraram uma revolta no 5º Regimento de Artilharia Montada, hoje Regimento Mallet, em Santa Maria, Rio Grane do Sul. Oitenta e cinco anos depois, o neto do primeiro-tenente Alcides, Sergio Etchegoyen, retornaria a Santa Maria como comandante da 3ª Divisão de Exército. Posteriormente, sabemos como Sergio foi vital para a recriação do GSI no governo Temer após Dilma Rousseff ter deslocado a Casa Militar para a Secretaria-Geral da Presidência da República.

Um caso bastante emblemático no Exército que demonstra que nem sempre o mérito é vitorioso foi o caso do coronel José Alencar de Ávila. Inicialmente, oficial da arma de Engenharia, foi o primeiro colocado de sua turma na AMAN e assim recebeu sua espada das mãos do general Geisel. Depois, formou-se engenheiro militar de construções no IME, ficando em segundo lugar. Conhecido por ser um estudioso de geografia e história, nunca se entendeu por que não conseguira passar no exame de admissão da Escola de Comando, curso obrigatório para atingir o generalato. Foi um complô dos ainda muitos ‘brigadas’ e alguns três e quatro estrelas. Esmurraram a mesa e decidiram que Ávila, ao contrário da grande maioria, não usava cola na mão. Seus algozes são os mesmos que o então cadete apontou como ‘coladores’ nas provas da AMAN. É a mesma turma que ainda veste uma farda que não merecem, por serem, acima de tudo, adoradores de um tenente que virou capitão ao ser expulso das fileiras do Exército.

Passadas vinte e quatro horas do incêndio provocado pelos terroristas travestidos de patriotas, como entender que generais ainda acreditam que um movimento golpista é possível na atual conjuntura? Como impor a destituição de um presidente da República eleito, empossado e reconhecido pelas potências mundiais? Podíamos ter um comando militar que ao menos tivesse estudado um pouco para poupar-nos das mazelas que vemos por demência de alguns insuflados por generais que não podem mais falar, mas que tuítam nas redes sociais ameaçando magistrados a abandonar as garantias individuais com fins golpistas.

José Múcio ressuscitou no domingo à noite. E o Brasil conhecerá, ao longo dos próximos dias, quais os generais, de brigada ou não, que serão obrigados a vestir o pijama e ficar em casa.

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