#SemAnistia
Mulheres de corações valentes soltam o verbo
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A prisão dos fascistas é o enterro do golpe contra a democracia.
No mês do julgamento do grupo de golpistas, a imagem de um certo dia de 2016 nos vem à mente. Procuro em meu blog o texto “Corações valentes”, escrito naqueles dias:
“Corações valentes são como árvores bem enraizadas.
Não caem. Não quebram.
Ventanias fazem suas folhas bailarinas dançarem.
Mas seu tronco permanece sereno e firme.” (Blog Multivias, janeiro de 2016).
Escrevi essas palavras em um dos dias mais difíceis que já vivi como cidadã. O Brasil assistia, perplexo, à interrupção do mandato de Dilma Rousseff, a primeira mulher eleita presidente do Brasil. Não por urnas revogadas, mas por manobras revestidas de legalidade.
Naquele tempo, meu blog estava quase em silêncio. Eu também. Mas havia palavras que precisavam nascer, ainda que em meio à dor.
Voltei a esse pequeno texto hoje, anos depois, por me lembrar de uma presidenta que enfrentou a tempestade com dignidade. E por perceber que, de tempos em tempos, a história nos convoca a replantar coragem.
Sim, os ventos mudam. E às vezes, parecem querer arrancar tudo: ideias, sonhos, direitos, até a própria esperança.
Mas há algo que permanece, como o tronco da árvore que resiste ao vendaval: o coração valente de quem insiste em se levantar.
Esse texto não é só sobre política. É, também, sobre mulheres.
Sobre raízes que vêm de longe: das mães que não se curvam, das avós que sustentam casas e histórias, das meninas que crescem ouvindo que não podem, mas vão lá e fazem.
É também sobre os que caminham juntos.
E sobre todos que, mesmo desacreditados, fincam os pés no chão e dizem: “Daqui não saio. Daqui ninguém me tira.”
Há algo em nós – em mim, em você, que não cede. Uns, chamam de resistência. Outros, de teimosia. Eu prefiro chamar de raiz. E, como toda raiz profunda, ela guarda a força da floresta inteira.
Sim, raízes profundas guardam a força da floresta.
E, corações valentes são árvores. São troncos firmes no olho do furacão, folhas dançantes nas tardes de primavera, e galhos que se curvam, mas não se partem.
Corações valentes não tremem diante do corte, nem se calam diante do grito.
Guardam em si a memória das sementes, a coragem das florestas e a esperança de quem sabe que até o outono é promessa de recomeço.
O golpe de 2016 está sendo enterrado. As sementes lançadas nascem. Uma floresta inteira rejuvenesce.
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@luisanogueiraautora